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minhas notas

19.09.23

Em boa hora se lembraram de lançar em Portugal a reforma do simplex, no intuito de simplificar processos e documentações, diminuir a enfadonha e labiríntica burocracia, descomplicar licenciamentos e autorizações, tornar a vida do cidadão mais simples e ágil. Já era tempo de se acabar com a impressão de que em Portugal há gosto pela complicação e pela confusão, é preciso passar estoicamente pelo calvário para se adquirir uma escritura, um subsídio ou um novo direito. Ainda persiste a ideia de que o Estado tem sempre gosto em complicar, enrodilhando o cidadão em decretos, leis e exceções de última hora, ou portarias acabadinhas de ver a luz do dia. Já agora, que o simplex chegue também à linguagem. Seria oportuno que em Portugal, neste momento, se fizesse um apanhado dos documentos que o Estado emite, nos seus muitos órgãos e organismos, e se cuidasse da linguagem, tornando-a clara, concisa, direta e simples para o cidadão.

Nos seus documentos, ou em boa parte deles, que religiosamente envia ao cidadão, o Estado nem sempre é claro e conciso, há excesso de palavreado, muitas vezes usa vocabulário caro e demasiado elaborado, obsoleto, até por vezes num português hermético e intratável. Alguns organismos do Estado têm uma comunicação deplorável, arcaica e soberba. Fica sempre no ar a sensação de que não há necessidade nenhuma de se comunicar desta forma e que é preciso melhorar e simplificar a comunicação do Estado. O Estado não tem nada a ganhar quando não comunica bem com o cidadão, e pior será se o faz para mostrar autoridade e altivez.

Até na Igreja se reclama que é preciso cuidar da linguagem, quer na oração, como no discurso, até mesmo nas tradições. A teóloga Cettina Militello alerta: “Acredito que, para a maioria das pessoas, a linguagem das nossas liturgias é no mínimo estranha, incompreensíveis antigas e belas metáforas. Seria preciso pelo menos um tradutor.” Talvez a teóloga esteja a ser excessivamente crítica, têm sido feitas boas reformas litúrgicas. A linguagem da liturgia também não pode ser simplista e corriqueira, tem de nos falar de Deus e da sua beleza. Ainda assim, a clareza e a simplicidade de Jesus são sempre exemplo a seguir. O Cardeal Matteo Zuppi adverte: “A Igreja não deve perder as tradições, mas também não deve tornar-se um museu. Deve comunicar com os indivíduos de hoje; o risco é que fale uma língua que não se entende ou, ao contrário, que nada diga.” Temos de recriar e dar novas roupagens às nossas tradições.

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