19.09.23
Vivemos num tempo de chavões e slogans. Vêm muito ao encontro deste tempo, que gosta de andar pela rama, que não deseja pensar muito e quer comunicações curtas, que quer tudo muito rápido e instantâneo. Segundo se ouve, já não há paciência para vídeos longos, nem para artigos compridos, mas para se ver futebol a tarde toda ou passar uma noite a ver séries há todo o tempo do mundo. Sempre foi e será assim: a cultura e ser culto dá trabalho, mas é um trabalho que interessa a uma minoria, que depois é admirada pela maioria. Estamos no tempo dos chavões. Depois de um estar gasto, vem outro. Bate-se palmas e salta-se de alegria. Mas quem se dá ao trabalho de os aprofundar e compreender?
Muita gente ficou deslumbrada com algumas frases do Papa Francisco, que, em abono da verdade, não foram uma novidade. O Papa Francisco não disse nada de novo que já não tenha vindo a dizer desde o início do seu pontificado. O que agora está a gozar os seus 15 minutos de fama é o “Todos, todos, todos”. Anda por aí citado, agora, até à exaustão. Não vejo qual foi a surpresa. Jesus no Evangelho manda anunciar o Evangelho a toda a criatura, todos estão abrangidos pelo amor de Deus e todos são chamados ao seguimento de Jesus Cristo, ninguém está excluído, e são vários os textos bíblicos que salientam a universalidade da salvação de Deus. A Igreja está destinada por Deus a ser uma casa de portas abertas e acolhedora para todos desde sempre. Bem sabemos, ou desconfiamos, que o Papa se sentiu obrigado a proferir aquela frase por causa das tensões que tem sentido com os setores mais conservadores e tradicionalistas da Igreja, que não aceitam alguns processos e caminhos propostos pelo Papa e a integração que está a dar a grupos considerados desviantes, e o Papa já está a perceber que o próximo sínodo da Igreja não vai ser fácil. De alguma forma, o Papa lança o apelo a se pensar, acima de tudo, mais na pessoa humana e não na doutrina, mais na unidade na diversidade da Igreja, mais no amor, menos no poder e na ideologia.
Já andam por aí mal-entendidos. Não se pense que este todos, todos, todos, é um convite a sermos uma Igreja sem critérios e sem valores, uma amálgama sem exigência, com tudo e o seu contrário, onde cada um vive como quer e faz o que quer, onde há tolerância para tudo, onde vale tudo. A Igreja é mistério de comunhão, mas uma comunhão exigente, que exige a conversão de todos, seguir Jesus Cristo e acolher o seu Evangelho. Estarão todos para aí virados?