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minhas notas

01.03.16


Pelos vistos, vivemos tempos de desencanto e indiferença. Criámos um ser humano saturado de tudo, abúlico, acrítico, farto de tudo, sem vontade e motivação para se entregar a convicções, sãs utopias e causas e lutar por metas e objetivos pessoais e sociais, que não sejam os imediatos, que foge da exigência e do esforço, anestesiado pela vida fácil e divertida, obviamente, não generalizando. Daí que se ouçam com muita frequência já muitos psicólogos, analistas sociais, pedagogos, educadores, bem como pais e peritos mestres da motivação, a incitar à cativação e à sedução. É preciso organizar operações de sedução às crianças, aos jovens, às pessoas em geral para tudo e mais alguma coisa, senão ninguém as arranca do desinteresse, do marasmo e da modorra espiritual e intelectual em que alegremente ou, diria, pobremente vivem. As pessoas desinteressaram-se da política porque os políticos não cativam, daí, dizem, o número vergonhoso da abstenção. As pessoas afastaram-se da Igreja porque a Igreja não cativa. Presidentes e orientadores de associações, instituições e movimentos e lançadores de iniciativas vão afirmando que há um absentismo generalizado e uma grande desmotivação, o que mais se vê é pessoas desinteressadas e esquivas. O admirável mundo da indiferença!
Que ser humano temos andado a construir? Será que estamos a chegar ao esperado ponto final da sociedade do bem-estar e da diversão, que não poderia produzir senão um ser humano passivo, amorfo, entediado e enfastiado por ter tudo e não ter conquistas para alcançar? O que mais me espanta nisto tudo é que, pelos vistos, as pessoas estão ocas por dentro. Não têm um ideal de vida consistente, que procuram atingir, para além dos interesses individuais, a não ser os fúteis que a cultura dominante propõe. Não têm convicções e um programa ou um projeto de vida. Não têm códigos de conduta e de moral claros, que as façam vencer o hedonismo imediato e a conveniência, respeitando a fidelidade a compromissos. Não têm objetivos nobres para si e para a sociedade, que as leve a gastar uma boa parte do tempo da sua vida a se dedicarem aos outros e a transformar e a renovar a sociedade. Bastava que muitas pessoas tivessem um pouco disto e são seria preciso andar a toda a hora com a palavra cativação na boca.
Se é verdade que a nossa educação e formação se aprimoraram nalguns conteúdos e nalgumas estratégias, de comprovada eficácia, também temos de dolorosamente concluir que ainda estão imersas numa grande vacuidade, que a médio e longo prazo terá um grande preço. A escola e a família não se podem preocupar apenas com a instrução de conhecimentos intelectuais, com o bem-estar e com o exercício de um ofício para se assegurar a estabilidade de vida. O importante é formar um ser humano responsável, comprometido, ativo, crítico, audaz, que procure dar mais do que receber, que procure ser inovador e enriquecedor para a sociedade, que procure com grandeza e nobreza a realização da sua humanidade e a dos outros, que procure ver e ir sempre mais longe, numa obstinada superação de si mesmo. Eduquemos e formemos melhor, para não termos de passar o tempo a dizer que é preciso cativar.
Natalidade
No ano de 2015, registou-se uma ligeira melhoria dos nascimentos em Portugal. Lembro que somos o sexto país mais velho do mundo e temos a mais baixa natalidade da Europa. A natalidade é um tema de elevada importância. Está em causa o equilíbrio, a sustentabilidade e o futuro da sociedade portuguesa. Custa ver como os sucessivos governos não atacam de forma firme e determinada o problema, apenas lançando pequenos incentivos ou ténues medidas corretivas. As Câmaras estão a dar melhor exemplo. O problema não tem uma solução fácil, mas já era tempo de se ir fazendo caminho, como repensar urgentemente na cultura do trabalho, nos horários de trabalho e na liberdade que a mulher ou a família em si pode recuperar e não me interpretem mal neste tema. Muitos casais também podem ir mais longe, sendo questionável a indolência e a submissão aos valores frívolos que hoje imperam. Eu já teria tomado algumas decisões, por pífias ou insuficientes que possam ser: não deixar que uma mãe chegue a casa às onze horas da noite e tenha que entrar no emprego às seis ou às sete da manhã, pelo menos nos primeiros anos da criança; impor as 19 ou as 20 horas a todos os serviços e comércios; libertar o fim de semana para a família; dar uma remuneração a uma mãe desempregada, que quisesse criar outro filho, dinheiro muito mais bem empregue do que alguns apoios e subsídios que criam parasitas e alimentam vidas inúteis; aumentar os abonos e outros apoios às famílias. Venham outras.
Sexualidade
Nesta sociedade erotizada e pansexualista em que vivemos, a maior parte das vezes, sobretudo nos media, em que se fala de sexualidade não é pelas melhores razões. Ou é para se falar da sensualidade de uma mulher impúdica, ou de estados de ninfomania e de satiríase, ou de desvios e abusos. O tema da sexualidade parece, assim, um tema estranho, confuso, perverso, vergonhoso, incómodo. A sexualidade faz parte da vida, não é um tabu nem um tema amaldiçoado. Exige formação e educação. Seria bom, sobretudo na família e na escola, que se fale e apresente a sexualidade de forma positiva, saudável, responsável, humanizadora, casta, para além das muitas vivências erradas dela que a sociedade mais publicita.

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