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minhas notas

28.07.15

1.O semiólogo e escritor italiano, Umberto Eco, concedeu há uns tempos uma entrevista à revista brasileira Época, onde afirma: «A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. A internet só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes.»

Já aqui o referi mais do que uma vez e volto de novo a lembrá-lo, exprimindo uma forte impressão que tenho dos tempos atuais: o termos muita informação não significa que estejamos a adquirir conhecimento. Há um trabalho fundamental, que tem de se fazer no silêncio: fazer a síntese, ajuizar o que está certo e o que não está certo, o que é verdadeiro e o que é falso, o que é verdadeiro conhecimento e o que não é, o que é confiável e o que não é confiável. Temos de fazer o trabalho da abelha: retirar da flor (informação) apenas o néctar (conhecimento). Duvido que muitas pessoas o façam. E que alicerces e solidez terão para o fazer? O mundo atual acelerou a vida e enche-nos o tempo com mil e uma ocupações e atividades, possivelmente, muitas delas inúteis. Sem se aperceberem, muitas pessoas fazem da vida uma resposta tresloucada a estímulos e sugestões que a sociedade habilmente lhes faz entrar pelos olhos dentro. Saiu há dias um estudo que referia o facto de as crianças serem educadas com a rigidez do horário de um executivo. Querer estar sempre em tudo e estar sempre ativo e ocupado é considerado o estilo de vida do homem moderno. No meio desta bizarrice e desta fanfarronice atual, nem nos lembramos de algo fundamental, que nos distingue do resto: o pensar. Se não damos tempo ao pensamento e à reflexão, estamos condenados à ignorância, à superficialidade, ao sem sentido e a vivermos na espuma da vida. Uma sociedade que não tem tempo para pensar está condenada ao empobrecimento humano, intelectual, espiritual e moral. E acho que já são notórios.

Há dias, no Jornal de Notícias, o conhecido empresário e inflexível adepto do Porto, Manuel Serrão, escrevia no Jornal de Notícias: «Nunca houve muita gente a pensar, mas nos dias de hoje o número de pessoas que se dedicam a essa atividade do espírito é confrangedoramente diminuto. Num exercício que todos podem fazer em suas casas ou no seio das suas famílias, tentem recordar-se de alguma criança, adolescente ou adulto que tenham visto a pensar nos últimos cinco anos. Tirando algum recanto milagroso em algum convento recatado como o das Carmelitas Descalças, vai ser muito difícil que esgotem nesta tarefa os dedos de uma só mão. (…) O comunicar substituiu hoje quase completamente o pensar e só isso explica o grau, perto do zero, que pauta a maioria das comunicações.» Reparem na pobreza em que tornaram o twitter e o facebook.

2.Com a chegada em força dos meios de comunicação social às sociedades contemporâneas, entrámos na era da mediatização e com a internet nasceram as denominadas redes sociais, cada vez mais invadidas por malcriados e moralistas demagogos. Há talvez uma sensação que paulatinamente se poderá apoderar das pessoas: quem não aparece e se faz notar parece que não é gente e não existe ou é um medíocre ou uma triste pessoa vulgar. E há quem viva obcecado e não faça uma boa gestão desta sensação, a que eu chamaria a síndrome ou o complexo da insignificância (o medo de não aparecer e de não ser notado, sentir-se inferior por não aparecer ou ser mediático). Daí que ande por aí muita gente em bicos de pés a ver se finalmente tem a sua aparição pública e se satisfaz o gozo de ser conhecido e ser falado, pelo menos durante algumas horas ou dias, por muito banal e irrelevante que seja o que diz e o que faz, quanto mais não seja até divulgar a vida toda nas redes sociais. De uma vez por todas, metamos na cabeça o seguinte: o que importa na vida não é viver para os outros ou seguir as modas e os parâmetros que uma sociedade define como a vida deve ser vivida, e muito menos ser um imitador de comportamentos e atitudes para parecer igual ou superior aos outros. O que importa na vida é vivê-la com autenticidade, como gostamos de a viver, na fidelidade ao que pensamos e ao que sentimos, sem adotarmos máscaras e comportamentos farsantes. Ser mais ou menos conhecido ou mediático é uma vaidade inútil. Na vida vivida na fidelidade a nós mesmos é que está a nossa realização e a nossa felicidade.

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