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minhas notas

08.04.14

Há uma frase atribuída ao sábio indiano Gandhi, que certamente muitos conhecerão, que mais ou menos diz assim: «O grau de evolução de uma sociedade pode ser avaliado pelo modo como essa sociedade trata as suas crianças, os seus idosos e os seus animais». Ou seja, pela forma como a sociedade trata os mais frágeis e os que estão mais dependentes dos outros. Infelizmente, temos a constatar que a nossa sociedade está a chegar a níveis preocupantes e indecentes. Se é esta a sociedade moderna de que muitos se gabam que somos, só temos a sugerir que pensem um bocadinho mais no que dizem e pensam, porque não se pode deixar de sentir uma grande deceção. Claro que temos instrumentos e meios que outras sociedades não tiveram e verificaram-se alguns progressos dignos desse nome. Mas o que nos faz modernos são os valores, as ideias, o nosso grau de humanização, a supressão de injustiças e preconceitos, o aprofundamento da nossa capacidade de convivência e de partilha da vida, o respeito absoluto pela dignidade humana.  

Todos os dias somos confrontados com notícias sobre abusos de vária ordem sobre as crianças. Se, por um lado, vemos que uma parte da sociedade as quer proteger e educar sem qualquer constrangimento e insatisfação, o que de alguma forma também é um exagero, porque viver numa redoma não prepara devidamente ninguém para a vida, por outro lado, vemos que outra parte da sociedade olha para elas como um instrumento ou um meio que facilmente se manipula e usa para as os mais variados fins indecorosos e torpes. Os idosos, depois de uma vida, possivelmente, dura e cheia de muita abnegação e sacrifício, pelo bem comum e pela família, são roubados e enganados a toda a hora sem dó nem piedade, por interesses gananciosos que se aproveitam da sua fragilidade e inclusive pela própria família. Há filhos que espancam os pais e os tratam diariamente como escória ou que pura e simplesmente os desprezam e netos que agridem e roubam os próprios avós. A ignorância e o analfabetismo de muitas pessoas também é constantemente o isco preferido dos muitos oportunistas e trapaceiros que por aí andam, sem o mínimo respeito pelas pessoas e pelo seu bem. Estamos a bater no fundo. É do mais indigno e vergonhoso que se pode fazer. É este o tratamento que merece quem muito se sacrificou pelos outros e quem muito deu à sociedade para ela ser o que é hoje? Estamos a atingir níveis de imoralidade alarmantes e a regredir gravemente como sociedade humana. Uma sociedade que trata assim os mais fracos e os mais desprotegidos, que são os que merecem mais respeito e mais atenção e amor, não é uma sociedade moderna e evoluída. É uma sociedade doente e desumana. É preciso refletir seriamente e unir esforços para dar outro rumo a esta sociedade sem humanidade, sem consciência moral e sem princípios, onde uns têm de ser esmagados e explorados para outros viverem injustamente e irresponsavelmente como muito bem lhes apetece.

2. Um casal de psicólogos, que habitualmente se dedica a tentar concertar a vida de casais disfuncionais ou a apimentar a vida de casais que se deixaram vencer pela monotonia e a rotina, afirmava aqui há uns tempos, num site de um jornal diário, que recomenda ultimamente aos casais a participação na missa dominical, porque é «chique» e ajuda a passar um dia diferente. Claro, sorri e quase gargalhei, lançando o pânico nas folhas soltas da secretária. Alguma treta moderna tem graça e desculpem usar a palavra treta porque é o que penso mesmo. Isto é treta. O bom disto é que, pelos vistos, a missa também serve para a terapia de casal, o que não sabia. Mas reparem no que está por detrás deste conselho: usar a religião para benefício do casal ou pessoal. Buscar a religião para enfeitar a vida e para única e exclusivamente encontrar bem-estar. Ora esta!. Senhores psicólogos: vai-se à missa porque se acredita em Deus, porque se deseja amá-lo e servi-lo, porque se deseja enriquecer e aprofundar a relação com Jesus Cristo e viver na comunhão, na partilha e na fraternidade com os outros. E também se vai à missa porque nela nos é dado a viver um amor santo e belo, que deveria sempre inspirar os muitos casais que se casam na Igreja ou fora dela. Este conselho diz muito do homem atual: só pensar em si e viver para o seu bem-estar, colocando tudo ao serviço disso, com o mínimo de exigência e de compromisso. Até a religião já entrou na órbita do bem-estar. Se as pessoas aprendessem a pensar um bocadinho mais nos outros e a viver para os outros e se entregassem a objetivos de vida sérios e a um ideal, talvez se libertassem de muitos fantasmas que pairam nos seus pobres mundos.

3. O homem atual manifesta uma grande preocupação pela saúde. Não há semana em que não saiam estudos sobre os benefícios de determinados alimentos ou como tentar evitar certas doenças. Agora está a aparecer a obsessão pelo cancro e não faltam conselhos para se tentar evitá-lo. Acho muito bem. E Deus queira que o consigamos dominar o mais rapidamente possível, assim como outras doenças terríveis. Não nos importa só viver por viver, gostamos de viver bem, com qualidade de vida, sem dor e sem sofrimento. Mas convinha não esquecermos que, ainda assim, o estar vivo e ter saúde não é o decisivo. A questão fundamental da nossa vida é viver uma vida com largura e profundidade, uma vida com sentido, uma vida com rumo, com nobreza e moralidade. A nossa sociedade dedica pouco tempo a discutir isto. O pior que nos pode acontecer é viver sem saber para quê e porquê, atrás das ventanias e das modas do mundo, sem um fim e sem objetivos e metas, sem um programa, sem um ideal, sem um verdadeiro sentido. Na vida de muitas pessoas, falta isto. Daí a apatia, o desnorte, a desmotivação, a depressão, a indiferença, a tristeza e o vazio, que não podemos deixar de constatar. Dificilmente se pode ser verdadeiramente feliz sem um verdadeiro sentido, sem uma causa e sem um grande objetivo para a vida que se vive. «São razões de viver, o que nos falta».

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