28.05.12
Já aqui escrevi algumas vezes sobre a mais que questionável educação e formação que se dá hoje às crianças e aos jovens e sobre o divertimento fútil e ultrajante que lhes é promovido. Vou de novo retocar o tema. Lançou-se o esconjuro sobre o velho método de ensino e sobre a organização familiar tradicional, que, na opinião de muitos, estavam prenhes de defeitos e preconceitos, e deu-se ordem de marcha ao «novo método de ensino», mais moderno e versátil, e a uma «nova forma de ser família», diluindo-se a autoridade paterna. Conclusão: o ensino anda num reboliço desde o 25 de Abril e a crise da família é patente, arrastando consigo, como não podia deixar de ser, a crise da sociedade. Anos e anos de experimentalismo pedagógico e familiar, com grande prejuízo para algumas gerações, apesar de serem notórias algumas coisas acertadas. O que se fazia antigamente podia ter alguns defeitos, mas também tinha muitas virtudes. Retirar a autoridade ao professor e ao pai foi um erro crasso, e quando digo autoridade não é o mesmo que autoritarismo, que, infelizmente, também existia. Antigamente, os papéis estavam devidamente definidos. O professor mandava na escola e ensinava, o aluno aprendia e cumpria, e o professor não só ensinava, mas era exemplo de valores humanos e sociais. Os pais disciplinavam e educavam e os filhos obedeciam e cresciam. Certamente que não era o sistema perfeito, mas uma coisa era clara: sentia-se a responsabilidade e a missão de formar o outro, a quem era preciso ensinar a ser pessoa e a viver como pessoa e a desenvolver as suas capacidades, por palavras e pelo exemplo, e assumia-se sem rodeios a autoridade, com toda a sua exigência. Na família, o pai era a principal referência, real e simbólica, da autoridade. Impunha balizas e traçava linhas para que os filhos pudessem crescer de forma saudável e responsável. Os pais eram presença assídua e competente, sem protecionismo, junto dos filhos, para os ajudar a crescer, como é sua missão.
Nas últimas décadas, empenhámo-nos em demolir o conceito de autoridade e em amaldiçoar tudo o que cheire a proibição e a imposição. Mudámos de paradigma: se antes os filhos se empenhavam em agradar aos pais, porque os pais é que sabiam da vida, agora são os pais que se empenham em agradar aos filhos, possibilitando-lhes todo o conforto e bem-estar e proibindo o menos possível, não vão os filhos ficar com traumas e viver amargurados. Tudo isto é verificável nos últimos acontecimentos que envolvem jovens (em Espanha, o excesso de noitadas e abuso de álcool) e no contacto que temos diariamente com eles: há uma crescente infantilização, sobrevalorizando-se a diversão (parece que não se consegue viver sem prazer a toda a hora, a vida tem de ser um recreio permanente), em prejuízo da maturação nas diversas vertentes da vida, não sabendo discernir devidamente o que é correto e o que não é correto ou o que merece respeito e o que não merece respeito. Os jovens, hoje em dia, não crescem com limites e com disciplina e nadam num lamaçal de valores e princípios. Muitos pais, atualmente, não são pais. São meros assistencialistas dos filhos, a quem tentam desagradar o menos possível, transportando-os para uma redoma, que os faça viver longe da verdade e da dureza da vida. O menino e a menina e as suas vontades são o centro da família. É preciso que os pais (pai e mãe) recuperem a sua missão e a sua autoridade responsável muito rapidamente. Corremos o risco de termos algumas gerações que não sabem assumir responsabilidades e que não sabem estar na vida. Os pais têm de recuperar a autoridade. O termo autoridade deriva do latim auctoritas (modelo, exemplo. Daqui nasceu a afirmação «ter autoridade», que significa que pode servir de modelo para os outros, pela sua boa conduta. «Não ter autoridade» significa não servir de exemplo para os outros, devido à sua má conduta), que vem, por sua vez, de auctor, derivado de augere, que significa aumentar, fazer avançar, fazer crescer, acrescentar, ajudar a ser maior. (Daqui também veio autor - o instigador, a causa, a origem, aquele que lançou e fez nascer uma ideia ou um projeto). Os pais têm de ser verdadeiros educadores. Têm de ser auctoritas, exemplos, por palavras e atos, que ajudem os filhos a crescer intelectualmente, humanamente e moralmente, modelos que eduquem os filhos para a autonomia e para a responsabilidade, e sê-lo de forma próxima e competente. Têm de saber dizer sim e dizer não, apontando valores, limites e colmatando as debilidades do crescimento integral dos filhos.
Anda por aí espalhada a ideia de que os pais devem ser «amigos» ou «companheiros» dos filhos, preocupados única e exclusivamente em dar amor aos filhos. Certamente que o serão numa fase mais avançada dos filhos, sem nunca deixarem de ser pais. Mas só amor não chega. Também é preciso autoridade que aponte o bem e o mal e que aponte caminhos para uma reta humanização. Até que os filhos atinjam a maturidade, é necessário que sejam educadores (do latim, alimentar com princípios e valores ou elevar, fazer crescer como pessoa), porque ser amigo não educa. O amigo consente e não impõe. Em alguns pais, inclusive, é gritante o alheamento da educação dos filhos, empurrado esse missão para a escola. Mas esta não pode fazer tudo. Os primeiros e principais educadores são os pais. Até há o cúmulo de pais que não sabem em que ano da escola os filhos andam. Muitos dos problemas de educação que enfrentamos na escola e na sociedade, com alguma incidência na criminalidade e na agressividade que todos os dias constatamos, deve-se à demissão de muitos pais da sua missão e principal dever de educar. Há que retomar o valor da autoridade dos pais no seio da família.