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minhas notas

22.08.09

No dia 29 de Junho deste ano, dia da Solenidade dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, o Papa Bento XVI publicou a sua mais recente Encíclica: “Caridade na Verdade”, sobre “o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade”. O que é uma encíclica? D. Manuel Franco Falcão define assim na sua Enciclopédia Católica Popular: «Documento solene do Papa, normalmente di­rigi­do aos membros da hierarquia, aos fiéis e por vezes também aos ho­mens de boa vontade», onde o Papa expõe aspectos dogmáticos e doutrinais, exercendo assim o seu magistério ordinário, sendo certo que uma «encíclica não define um dogma, mas actualiza a doutrina católica através de um ensinamento ou um tema da actualidade e é vista como a posição da Igreja Católica sobre um determinado tema». Duvido que os mesmos jornalistas que esperaram o Papa na sua visita a África, preocupados em sacar afirmações controversas ao Papa, como foi a do uso do preservativo, que ainda, possivelmente, se refazia de algum cansaço e sonolência, tenham estado na apresentação desta encíclica. Ler assuntos sérios, pensar e reflectir a sério, com profundidade, precedido de um aturado estudo, dá muito trabalho e interessa a pouca gente. Muito jornalismo, actualmente, só anda atrás de sound bites e de parangonas fluorescentes, que só servem para encher páginas de jornais durante alguns dias, acolitado pelos habituais “opinion makers”, que sabem um pouco de tudo e um pouco de nada, sem se querer pensar de forma consistente, com total indiferença pela substância e pela verdade das coisas. É o que hoje se chama a “informação do entretenimento”, ou “informação espectáculo”. Informa-se para entreter e fazer espectáculo, destacando-se os excessos e reacções e contra-reacções, e não para se debater a sério. É um dos dramas do mundo contemporâneo: pensa-se e vive-se muito à superfície, sem um pensamento consistente, com total desprezo pela verdade última e sentido último dos acontecimentos e dos factos da vida e existência humana.  

Tendo como pano de fundo a crise, que é o somatório de crises de vária ordem, que ainda se faz sentir por todo o mundo, ao longo de várias páginas densas, que exigem uma leitura lenta, com uma grande abrangência, o Santo Padre Bento XVI discorre sobre os vários problemas que se colocam hoje à humanidade do ponto de vista politico, financeiro, económico, social, ambiental, humano, entre outros e aponta caminhos e valores que devem estar presentes nas novas soluções, sob o ponto de vista cristão católico. Meio mundo está à espera que esta tempestade passe, para se voltar ao mesmo. É um equívoco que é preciso combater afincadamente. Um dos aspectos que o Papa sublinha ao longo da encíclica é que é preciso encontrar um novo paradigma de desenvolvimento e os problemas têm hoje uma nova dimensão e complexidade, exigindo por isso novas soluções. A crise que vivemos não é senão um sintoma da perversidade da ideologia e do sistema em que o mundo está assente. É urgente encontrar novos procedimentos, um novo sistema de valores e relações, alicerçado na responsabilidade e direccionado ao bem comum de cada país e da humanidade, integral, assimilador das várias dimensões humanas, novos horizontes que dêem solidez à caminhada humana, assentes na verdade. A primeira frase da encíclica é lapidar: «A caridade na verdade, que Jesus Cristo testemunhou com a sua vida terrena e sobretudo com a sua morte e ressurreição, é a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira».

Hoje, é por demais evidente que é preciso “civilizar” a economia, que nos últimos anos ousou percorrer os meandros da irresponsabilidade e da imoralidade. A economia deve estar ao serviço do homem e não o contrário. Há que condenar a vontade mascarada de construir impérios, com vontade de dominar. Há que condenar o “multinacionalismo” viajante que vigorou nos últimos anos, que só pensa nos lucros e está-se marimbando para os bem dos trabalhadores. Há que condenar a “ditadura do lucro”, que tem cegado os empresários nos últimos anos. O lucro, sem deixar de ser importante, não é tudo. Mais importante é quem o produz. Há que condenar o excesso de horas a que muitos trabalhadores estão sujeitos em nome das metas, ditas mais elevadas, das empresas. Há que repensar seriamente a produção desenfreada sem qualquer respeito pelo meio ambiente. Há que desarmar os “aventureiros”, que profundamente conhecedores das falhas das leis e dos sistemas, se dão ao luxo de enriquecer imoralmente, sem qualquer preocupação com o bem dos outros e com o seu futuro.   

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