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minhas notas

02.08.14

Escusado seria escrever isto, mas, antes que aconteçam ataques de urticária ou suspeições pífias, lembro mais uma vez que a vida dos partidos políticos e as lutas das forças políticas não me interessam nada. Já não posso dizer o mesmo do discurso político, seja de que partido for, porque o discurso político apresenta visões do mundo e da sociedade e propõe caminhos, metas, soluções e estratégias para o melhoramento da vida coletiva e para a resolução dos problemas e das dificuldades. Tudo isto é criticável. Como cidadão atento e crítico (no sentido positivo da palavra), tenho o direito e o dever de analisar a retórica política e de manifestar a minha concordância ou discordância, apontar erros, incongruências e até devaneios, de acordo com os meus princípios e convicções. Isto é que é a democracia.

Num artigo da revista Visão, de 12 de Junho de 2014, o Dr. Mário Soares expôs a sua preocupação em relação ao meio ambiente e o seu pessimismo quanto ao futuro do ser humano e do planeta terra. Enumerou os muitos problemas que é preciso enfrentar urgentemente: os degelos do Ártico e do Antártico, que vão destruir praias e invadir estradas e casas junto ao mar, a destruição da fauna e da flora, que em algumas partes do mundo está a atingir níveis mesmo preocupantes, a devastação das florestas na busca de ouro, petróleo, gás, carvão, a destruição das florestas pelos incêndios, o sobreaquecimento do planeta, a utilização dos oceanos como lixeiras, colocando-se em risco muitas espécies marítimas. De facto, tudo isto é muito preocupante e tem razão o Dr. Mário Soares quando afirma que não há tempo a perder e é preciso agir com lucidez e determinação. Temos o dever de assegurar o futuro risonho do ser humano e do planeta terra e não o direito de o destruir. Temos o dever de sermos guardiões deste jardim que Deus nos deu e de o deixarmos limpo e belo para outros que o virão ocupar. Quais as causas destes abusos e agressões sobre o ambiente? O Dr. Mário Soares é perentório: a inação e o desleixo dos políticos, sobretudo da ONU, e a ganância e a inconsciência dos mercados, ou seja, do capitalismo que só quer lucros a todo o custo e que só vê dinheiro, sem qualquer preocupação ética. Penso que tem razão o Dr. Mário Soares, embora também existam outras causas menores.

O que eu acho interessante neste artigo do Dr. Mário Soares é que é uma grande crítica ao discurso do seu próprio partido e ao discurso político que imperou em Portugal e no mundo nas últimas décadas. Quando a ciência foi começando a alertar para os abusos e excessos sobre a natureza devido à crescente e desenfreada industrialização dos povos, sem sensatez e ética, os políticos foram assobiando para o lado, preocupados em atingir o poder ou em mantê-lo, convencendo as multidões de que o caminho do desenvolvimento era irreversível, sem se olhar bem à forma, que a industrialização traria o progresso, o bem-estar e a abundância para todos, como se isso a longo prazo não tivesse fatura e como se a mãe terra tivesse uma resistência insuperável e recursos inesgotáveis. As palavras que mais se ouvem agora, em dois coros antagónicos, é austeridade e crescimento. O governo impôs uma linha austera, que talvez tenha sido excessiva. Quem se opõe ao governo, diz que é preciso apostar no crescimento. Qual crescimento? O que é o crescimento? Já todos percebemos: continuar a apostar na industrialização, que tem vindo a degradar a vida humana e a destruir o planeta terra. O próprio Dr. Mário Soares já criticou severamente a linha austera do governo, que não sei se está bem ou está mal, afirmando que é preciso apostar na linha do crescimento. Em que ficamos Dr. Mário Soares: Como é que desenvolvemos o nosso país sem ser à custa dos mercados que todos nós diabolizamos? Queremos salvar o planeta terra, enterrando de vez a velha industrialização e o seu crescimento nocivo e irresponsável, como o Senhor bem afirma, ou continuar a destruí-lo? Que emprego milagroso haverá para os desempregados a não ser através da industrialização perniciosa para o meio ambiente? Qual é o crescimento inócuo e amigo da natureza que já conhecem e que ainda ninguém encontrou? É nestas questões que os partidos políticos se devem concentrar, já que primeiro que tudo devem ser espaços de pensamento e de reflexão, e não andarem entretidos com jogos mediáticos estéreis de ping-pong, em que se atolam num mar de contradições, defendendo-se ao mesmo tempo a natureza e o seu pior inimigo. Temos de repensar outra forma de organizar a sociedade e outro paradigma de desenvolvimento, porque o que até aqui nos trouxe está a molestar gravemente este planeta terra que temos o dever de cuidar.  

2. Muito se tem escrito e comentado sobre a ponte da Assureira entre Vilar de Perdizes e Soutelinho da Raia. Não sei a história da ponte e quais são os contornos políticos que estão na sua origem e que a rodeiam. Mas ainda assim prefiro quem constrói pontes do que quem constrói muros, que, infelizmente, não faltam. Uma coisa me parece certa: é incompreensível que não haja, neste momento, uma estrada rápida e com bom piso entre Montalegre e Chaves. Ainda para mais, não são assim tantos quilómetros como isso. Por muito que se culpe o centralismo de Lisboa, acho que as duas Câmaras envolvidas ainda não fizeram tudo que podem e devem fazer e é pena ver que, afinal, para ações tão importantes, o próprio interior não sabe ter a destreza e a união suficiente para melhorar a sua qualidade de vida, em prejuízo de todos. 

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