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minhas notas

17.03.11

Às Sextas-feiras à noite, passa um programa na TVI intitulado Depois da Vida, em que uma médium, de seu nome Anne Germain, nos oferece momentos de solene ‘comunicação’ com os mortos. Tenho a certeza de que já anda por aí muita confusão nas cabecinhas de muita gente, senão mesmo apuradas convicções do realismo de todo aquele entretenimento (repare-se que no site da TVI, o programa encontra-se na secção de entretenimento. Não devia estar na secção de informação?!) Quem for apanhado desprevenido, é levado a pensar que tudo aquilo é verdade. Deixemo-nos desde já de bizarrias: toda a gente sabe que aquilo é uma farsa e uma comédia, que apesar de ser muito bem feita, é ridícula. É muito boa para quem gosta de delírios e desvarios.

Lamentável o préstimo que várias figuras públicas, que gostam de aparecer por tudo e por nada, dão ao programa, não se dando conta da triste figurinha que fazem e do enxovalho a que se expõem. Quem estiver minimamente atento ao desenrolar do programa, não deixa de perceber desde logo várias coisas: a atmosfera do programa visa favorecer a expectativa e o suspense nos assistentes e espectadores; a médium exibe um ar sério e compenetrado, que não passa de um ar teatral, para lhe favorecer a observação (ele está a comunicar com os vivos e não com os mortos) e dar um ar convincente à comunicação; arrastamento do discurso para o emocional para causar mais impacto; a dita comunicação com os mortos vai sendo feita com as sugestões e as deixas que os vivos vão dando; é notório que houve um recolher de dados para dar andamento ao programa. Enfim, uma farsa muito bem feita. Houvesse mais respeito pelos mortos e este tipo de programas nem à secretária de um director chegaria, quanto mais à grelha de um canal televisivo. A médium presente no programa domina a arte da influência, da manipulação e da observação, e servindo-se delas, vai sacando o que lhe interessa e conduzindo o discurso para onde lhe convém. Tudo não passa de uma sessão profissional de mentalismo.

Ao contrário do que diz o mito, não há e nunca haverá comunicação com os mortos, a não ser que os nossos meios de comunicação atinjam um progresso impensável. É um tema que suscita muita curiosidade a muitas pessoas. Não faltam por aí pessoas que juram pela sua vida que já receberam um qualquer recado de um falecido, outras que dizem que andam a ser perseguidas por um defunto, outras que dizem que têm momentos em que sentem mesmo que estão a falar com pessoas que já partiram deste mundo. Até o mandar rezar missas anda um pouco misturado nesta parafernália pseudo-transcendental. Tenho todo o respeito pelas experiências que as pessoas fazem, mas a questão é que muitas vezes confundimos a fé com aquilo em que queremos acreditar. Normalmente o recurso a estes temas é uma necessidade que as pessoas têm de acreditar em qualquer coisa ou de justificar o que não conseguem compreender, agarrando-se a qualquer coisa a todo o custo. Muitos casos não são senão resquícios de ingratidões e injustiças ou outras situações que não se resolveram com os falecidos. O remorso, mais tarde ou mais cedo, manifesta-se e busca a sua libertação, arrastando para exercícios delirantes.  

A Igreja Católica, ao contrário do que anda disseminado pelo mundo global da internet, não aprova nem aceita a comunicação com os mortos. Quem morre entra numa nova vida e num mundo novo. E está onde Deus está. Não anda por aí a vaguear e a meter-se com os vivos, deixando-lhes recados e comunicando-lhes revelações sobre não sei o quê ou brincando aos segredinhos. Isto não quer dizer que eles estão separados de nós. Continuam unidos a nós. Mas não há comunicação, mas sim comunhão. Há um espaço próprio onde estamos com os mortos e fortalecemos a nossa comunhão com eles: a liturgia da Igreja. Sempre que celebramos a Eucaristia, estamos todos em comunhão, vivos e mortos, como diz o catecismo da Igreja no seu número 959: «Na única família de Deus, todos os que somos filhos de Deus e formamos em Cristo uma família, ao comuni­carmos uns com os outros em mútua caridade e no comum louvor da Santíssima Trindade, correspondemos à íntima vocação da Igreja». O resto são tretas. 

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