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minhas notas

13.05.16

A organização dos nossos dias semanais tem uma clara influência religiosa judaico-cristã. Primeiro, foram os judeus a criar o Shabat (o Sábado), o sétimo dia, em que Deus descansou depois da obra da criação, numa leitura crente do mundo e da sua história, sendo ainda hoje o dia sagrado para o judaísmo, dia em que privilegiam a oração, a escuta da Palavra de Deus, a memória das maravilhas de Deus, o descanso, a família e a comunhão fraterna. Depois, após a ressurreição de Jesus, foram os cristãos a introduzir o Domingo depois do Sábado, o Dia do Senhor, dia em que Jesus ressuscitou, o oitavo dia, querendo assim manifestar que a ressurreição de Jesus foi a nova criação, o tempo novo, o primeiro dia da vida nova que Jesus Cristo (e n’Ele o homem) alcançou depois da sua morte. Reformularam-se os dias da semana e deu esta configuração que temos agora, sobrepondo-se o Domingo ao Sábado. Notemos as diferentes perspetivas entre judaísmo e cristianismo, que, de alguma forma, também são complementares: os judeus chegam ao fim da semana, os cristãos iniciam a semana. Segunda-feira já é segunda. O primeiro dia da semana é o Domingo, que absorveu o sábado como ponto de chegada da atividade semanal, que o homem contempla com júbilo, mas que é sobretudo ponto de partida. O Domingo é o encontro com Jesus Cristo e com outros para se aprofundar e projetar a vida para a frente, é alimentar o ir mais além e viver mais e melhor com os outros, a partir de Deus.
O Domingo tem assim um significado e um conteúdo próprios e uma importância fulcral para a dimensão religiosa e espiritual da pessoa humana, assim como para o seu enriquecimento e equilíbrio mental, social e humano. Costuma-se dizer que o homem trabalha para viver. Se seis dias (ou cinco) têm um objetivo concreto, que é o trabalho, um dia fica totalmente livre do peso do trabalho para o homem viver as outras dimensões da sua humanidade, para saborear a vida no encontro com Deus, com a família, com os outros, no descanso e no lazer, no convívio, na festa e em tantas outras ações lúdicas e deleitosas que favorecem a sua humanização e a celebração da vida (o Domingo também é o dia do homem). Para os cristãos é o dia sagrado: é o dia de Cristo, por isso se deve ir à missa, dia do dom do Espírito Santo, o dia da fé, o dia da Igreja, da esperança, o dia da alegria, do repouso e da solidariedade e comunhão fraterna. Enfim, o Domingo é o dia em que a vida e o tempo respiram e se procura viver e antecipar o que esperamos viver um dia em plenitude, a eternidade com Deus e com os outros.
Assim sendo, na sociedade atual, seria bom que o Domingo fosse um direito e um privilégio de toda a pessoa humana. Infelizmente, a sociedade do consumo e do lucro, que sobrecarrega a pessoa humana com excesso de trabalho, está, em parte, a destruir o Domingo, com graves consequências para a pessoa humana, para a família e para a sociedade. Não consigo compreender, por exemplo, a necessidade de os hipermercados estarem abertos ao Domingo e como é estranho ver pessoas a passarem horas e horas em hipermercados, quando outras coisas bem mais importantes se poderiam fazer. E quem diz os hipermercados, diz outros trabalhos e serviços que não se deveriam fazer ao Domingo. Por outro lado, seria bom lembrar aos cristãos que a santificação do Domingo não é só participar na Eucaristia dominical. Instalou-se uma certa ideia minimalista de que se «despacha» o preceito dominial em ir à missa e depois fica-se com o tempo livre para o que apetecer. Todo o Domingo é dia do Senhor e da Igreja, ou seja, para se dedicar ao Senhor e para se fortalecer a comunhão d’Ele com os seus discípulos e destes entre si. Todo o Domingo, no seio da família, das relações humanas e na diversão, deve ser vivido com espirito cristão, sendo por isso questionável muitos eventos e atividades e alguma diversão que se faz, que pouco ou nada têm de cristão. O Domingo também deve ser santificado pela reunião familiar mais alargada, em clima de alegria e de festa, pela oração familiar, por mais oração individual e comunitária, pela prática das obras de misericórdia, pela peregrinação a algum santuário, leitura da Escritura, catequese, convívio fraterno.
Alguns cristãos perguntam às vezes sobre o valor da missa vista pela televisão, e ainda bem que as rádios e as televisões o fazem. Não há nada que substitua o estar presente na Eucaristia dominical. O ver a missa pela televisão não serve para satisfazer a santificação do Domingo, mas é um bom meio e uma ajuda preciosa para se criar alguma comunhão com Deus e com a Igreja para as pessoas que estão acamadas ou gravemente doentes ou que sofram de alguma imobilidade. Jamais deve ser uma prática corrente para as pessoas que podem ir à Igreja. Seria desvirtuar o Domingo e os sacramentos da Igreja, assim como a vida. É completamente diferente ver um vídeo de um casamento e participar no casamento. Há uma diferença abissal e intransponível.

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