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minhas notas

21.12.15

O Jesuíta Carlos Carneiro, na primeira conferência que foi proferida no simpósio do clero este ano, na fase introdutória da mesma, criou algum silêncio grave na plateia, quando afirmou que não era um católico praticante e que dificilmente alguém é um católico praticante perfeito. Claro, explicou-se. Começou por manifestar o seu desacordo pelas expressões criadas católico praticante e não praticante. Porque a fé não se reduz a participar em atos de culto ou em celebrações e rituais. A fé cristã é um estilo e uma forma de vida, uma maneira diferente de estar na vida e no mundo, em sintonia com os princípios e os valores de Jesus Cristo. E não há dúvidas de que quando confrontamos o que somos e o que devíamos ser, não podemos deixar de reconhecer, por mim falo, que somos cristãos católicos não praticantes, porque não vivo tudo em que acredito e que professo e a minha ação e a minha prática de vida, por pecado ou omissão, estão aquém da doutrina e da moral da minha fé. Vou aprendendo a ser um católico praticante, que une o culto à vida e a vida ao culto, procurando viver os princípios da fé e pôr em prática no dia-a-dia da vida os valores e consequentes atitudes e comportamentos da minha fé.

Habitualmente, usa-se a expressão católico praticante para aquele que participa assiduamente na vida litúrgica da comunidade a que pertence, nomeadamente na missa dominical, algo que devia fazer parte da vida de qualquer cristão católico. O não praticante é aquele que, apesar de aceitar formalmente a fé católica, alheia-se da vida da comunidade, fica-se pela mera adesão intelectual, não percebendo que faz parte de uma comunidade e que a fé se vive em comunidade. Reparem que a tónica destas expressões está na participação no culto. E a vida? Na verdade, estas expressões são enganosas. Podemos ter católicos que vão à missa e que no dia-a-dia metem a doutrina e a moral cristãs no bolso (e então pomos a pergunta - são praticantes?) e podemos ter católicos que até não frequentam a vida da Igreja e têm uma postura e uma conduta de vida assinaláveis (e também pomos a pergunta – serão não praticantes?). Quem é verdadeiramente praticante: o que vai à missa ou aquele que, de facto, pratica a sua fé no dia-a-dia da sua vida?

Não pensem que estou a desvalorizar ou a diminuir a importância da participação na vida litúrgica e pastoral da comunidade ou que as duas coisas se têm de antepor uma à outra. Há católicos que pensam que pelo facto de terem uma ética razoável, já estão livres de ir à Igreja. Era o que faltava. Uma coisa não substitui a outra. A comunidade e a vida litúrgica são pilares fundamentais na vida de um cristão católico. Fé que não celebra e não caminha com os outros, morre. A comunidade é o ambiente natural para a fé se alimentar, crescer e amadurecer. Não se consegue ser um bom católico sem a comunidade e não há verdadeira relação com Jesus Cristo e com a Igreja sem os sacramentos, sobretudo a Eucaristia. O que eu quero sublinhar é o equívoco daquelas expressões. Um cristão católico que vai à missa e depois na vida não vive e não pratica a sua fé, não é um católico praticante, quando muito é um cristão católico ritualista, que limita a fé à Igreja e que na vida concreta vive na incoerência entre fé e vida e dá o contratestemunho, que não pode deixar de escandalizar, de dizer uma coisa e andar a fazer outra. É uma grave deturpação da vivência da fé cristã e uma lamentável hipocrisia.

No fim da nossa vida, pelas indicações que Jesus nos deixa nos Evangelhos, seremos julgados pelo critério do amor efetivo, operante e concreto para com os outros. Não nos será perguntado quais as devoções que tínhamos ou as vezes que fomos à missa. Deus nos livre de uma vivência cristã que se fique nos ritos e nas intenções, sem a prática efetiva do Evangelho.

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