19.09.23
Obrigado a ir para a reforma e a deixar de dar aulas na universidade, o Professor catedrático, Eduardo Paz Ferreira, desabafou: “É uma violência as pessoas serem obrigadas a deixar o trabalho por causa da idade. Temos fenómenos como o racismo, como o sexismo e temos também este fenómeno (idadismo) da discriminação em relação aos mais idosos, que se considera que já não têm valia e que lhes resta ir tratar dos netos”. E dá o exemplo do Papa Francisco, que, apesar da idade, manifesta “uma energia e uma capacidade de intervenção altíssima”.
São muitas as formas como a sociedade de hoje discrimina os mais velhos e como está normalizado um certo saneamento inaceitável dos idosos, que têm de carregar a maldição de já terem vivido muito e de já serem um pouco “antigos”. E, de facto, não deveria existir a aposentação ou reforma obrigatória, para não dizer coerciva. Há muitas pessoas idosas que ainda continuam muito válidas, com uma saúde muito estável, podem ser muito úteis, têm uma sabedoria e uma experiência de vida que pode ser de capital importância para as instituições e a sociedade. São assim obrigados a sair de cena e são afastados da vida cívica, da vida profissional, correndo até o risco de se desinteressarem um pouco da vida.
Haverá sempre tensão entre jovens e velhos, entre as novas e as velhas gerações, mas é inadmissível que se condene e afaste as pessoas pela sua idade, normalizando-se um certo discurso tipo “já está na hora de arrumar as botas, está na idade de ir tratar dos netinhos, que vá cuidar do jardim”, e por aí fora, como se ser velho fosse crime e tenha de se arrumar num canto, porque já não faz falta e é um inútil. Haverá, certamente, pessoas que querem chegar à reforma e ir à vida delas, mas há outras, com saúde e vigor, que ainda querem continuar o seu trabalho e a exercer o seu ofício. As pessoas deveriam ser livres de tomar essa decisão.
No dia do funeral da sua mãe, D. José Tolentino Mendonça afirmou na homilia: “Olhem para os nossos idosos como uma força de vida muito grande, as pessoas idosas são um depositário de humanidade, de memória, de tradição de conhecimento de um modo de ver e discernir a realidade, isso é um tesouro muito grande. A velhice é também um recurso humano de que nós precisamos muito, para nos reconciliarmos mais profundamente com a vida, com aquilo que ela é”.
A idade não deve ser vista como um problema, nem um estorvo, mas como um bem, um tesouro, uma graça, uma mais valia para o equilíbrio da sociedade.