11.02.21
Já se pergunta nos ambientes eclesiais se muitos católicos voltarão à Igreja depois da pandemia. Já nem falo daqueles que desconfiam de que o vírus já cá anda há muitos anos e abandonaram as celebrações eclesiais há muitos anos. Quando as igrejas reabriram, terão sido poucas as que esgotaram a lotação em conformidade com as regras da pandemia. Vale a pena lembrar que muitas pessoas foram dispensadas de ir à Igreja, vivemos em regiões de grande envelhecimento e temos muita gente doente. Mas mesmo assim, sobram muitas pessoas que poderiam ir e não vão.
Sou levado a crer que os cristãos que habitualmente participavam e participam na vida da Igreja o fazem por convicção, vão à Igreja por verdadeira fé e que sabem compreender os tempos excecionais que estamos a viver. Se assim não for, que pobres cristãos temos sido. O que deve motivar um cristão a participar na vida da Igreja é o amor a Deus e aos outros, é o fascínio por Jesus Cristo e pelo seu Reino, é a alegria de ser e pertencer à Igreja, é o encanto pela fé. Não é o cumprimento formal de obrigações e preceitos, ou a repetição fria de hábitos que dão sentido à vivência da fé cristã. Repito mais uma vez, se assim é, que pobres cristãos temos sido. Não é por agora se quebrarem os hábitos e os dinamismos das nossas rotinas que vamos abandonar a nossa participação na vida da Igreja. Se assim acontecer, debelada a pandemia, teremos que concluir que estamos ainda no estado da infantilidade cristã. Andamos a reboque da cultura em que nascemos e dos costumes que assimilámos, mas, fora isso, não sabemos viver a fé de uma forma madura e pessoal, o que é um sintoma de grande enfermidade cristã. A ver vamos. Talvez venham mais ao de cima os motivos banais e fúteis porque muitas pessoas vão à Igreja. E se se der uma filtragem e uma purificação destes motivos, a Igreja não ficará a perder nada. Que muitos cristãos praticantes não deixem de refletir seriamente nestes dias o que tem significado a liturgia nas suas vidas e porque razão vão à Igreja. Será que é pelas verdadeiras razões? Quem estiver focado e fascinado por Cristo, duvido muito que abandone a vida da Igreja.
Sem qualquer intenção de censura ou julgamento, quando os cristãos voltaram às celebrações litúrgicas, reparei que a maior urgência sentida era as missas pelos defuntos, receber a comunhão, cumprir o preceito dominical, dar sentido ao domingo, mas não vi ninguém a falar da comunidade e da necessidade de estar com os outros, de celebrar a vida e a fé com os outros, de quem se sentia profundas saudades. Talvez seja um sintoma de que fazemos pouca experiência de comunidade aos domingos e vivemos pouco em comunidade, como devia ser o mais normal e o mais condizente com as exigências da reta vivência da fé cristã.
Vejo muitas pessoas a terem saudade do rito da missa, mas não vejo muitas pessoas a manifestarem saudade pela comunidade, de viver um verdadeiro encontro com os outros irmãos na fé e de se comprometerem a viver e a partilhar a mesma vida. Há excesso de culto e preceitos e deficit de comunidade, o sentir os outros e crescer em unidade e serviço uns para com os outros. Talvez isto nos diga que ao domingo somos mais um conjunto de indivíduos que vão à missa comandado por hábitos ou até escrúpulos, do que uma verdadeira comunidade de irmãos que tem uma grande alegria de estar junta e celebrar, e talvez diga muito da frieza que alimentamos nas nossas celebrações dominicais. Fazemos uma experiência pobre de comunidade.
Falta-nos a noção de que a missa também é um encontro com os outros, é uma comunidade, de que faço parte, que se alimenta e celebra, e não deveríamos achar normal que basta ver a missa pela televisão ou ouvir pela rádio, já nem falando dos que se consideram cristãos sem participar na vida da comunidade. E falta-nos esta noção porque na vida de todos os dias não vivemos em comunidade, vivemos muito virados só para a família e para o nosso grupo de amigos, não vivemos de verdade uns para os outros, para todos e para cada um. É uma dimensão que tem de ser seriamente repensada em muitas comunidades cristãs. Sem comunidade e em comunidade não há cristianismo de verdade.