11.02.21
Nunca foi fácil ser velho. Alguns chamam-lhe o inverno da vida. É e será sempre uma experiência perturbadora para a pessoa humana confrontar-se com o definhamento das suas capacidades psíquicas, intelectuais e físicas e voltar a um tempo de dependência próprio da infância. É penoso ver os sentidos a claudicarem e a arrastarem-nos para uma dolorosa perda de contacto com o mundo, um corpo que antes tinha uma admirável elasticidade para saltar penedos e agora lança sinais de alerta de todos os lados. Mas nada disto é surpreendente, já todos sabemos que temos um princípio, um meio e um fim. O melhor caminho a seguir é reconciliarmo-nos com a vida e tornarmo-nos aprendizes da arte de envelhecer. E ainda bem que temos alguns exemplos inspiradores à nossa volta. Não deixar imperar a visão capitalista e utilitária da vida, como se o ser humano só valha pelo que trabalha e produz.
Se o tempo da velhice já é por si o que é, também é verdade que a família e a sociedade têm a responsabilidade de o tornar mais saudável ou mais espinhoso. E facilmente podemos notar, atualmente, que não estamos a fazer tudo, como temos o dever de fazer, para que os mais velhos tenham uma velhice proveitosa e digna, sejam valorizados e apreciados, amados e estimados, muito por culpa de um modo de vida egoísta e comodista em que vivemos, com agendas individualistas e hedonistas, onde o cuidar dos outros e viver para os outros não têm espaço, onde a família está a deixar cair a sagrada tradição de todos olharem uns pelos outros até ao normal fim da vida. O esquecimento, a solidão, o abandono estão a ser a triste sina de um bom número de velhos. Na Ásia e em muitas culturas africanas, há um respeito venerável e abissal pelos mais velhos das famílias e da comunidade, na Europa, sede de progressos civilizacionais e dos direitos humanos, condenamos os velhos ao desprezo e à irrelevância social, sem o mínimo respeito pelo que lutaram e pela fina sabedoria que carregam.
Temos de mudar de atitude para com os mais velhos, que nos dão horas leves de prazer a ouvi-los contar as histórias da vida e nos oferecem sal para darmos equilíbrio a tanta imprudência e precipitação que nos comandam. Um crime civilizacional que estamos a cometer atualmente é separar as gerações, os netos passam pouco tempo e convivem pouco tempo com os avós, tirando, claro, as muitas felizes situações em que isso ainda acontece, os mais novos não sorvem a memória, a experiência e a sabedoria dos mais velhos. É uma perda irreparável para a consistência e a harmonia da sociedade e das famílias os mais novos não absorverem o saber valioso dos mais velhos, sobretudo num tempo que dá a primazia à formação tecnológica, científica e técnica, mas onde faltam de forma gritante a educação básica, os valores humanos, sociais e espirituais. Dizia há dias a escritora Alice Vieira: «Os avós ensinam coisas que os pais não ensinam» e o Papa Francisco escreveu num tweet: «Onde não há cuidado com os idosos, não há futuro para os jovens». E a Comissão Episcopal do Laicado e Família não pode deixar de concluir: «Os avós são um tesouro. Neste tempo que vivemos, precisamos de o dizer de forma clara, de o defender de forma assertiva. E os tesouros são protegidos, tocados com cuidado e admiração. Uma sociedade que não protege, não cuida, não admira os mais velhos, está condenada ao fracasso».
Há que fomentar três atitudes fundamentais para com os mais velhos: em primeiro lugar, respeito profundo, por serem pessoas humanas com a mesma dignidade que as outras, a idade não diminui a dignidade, e pela sua caminhada de vida; depois admiração, pelo muito que trabalharam e lutaram pela família, pela terra ou pela sociedade; por fim, valorização da sua memória e experiência de vida, tesouros imprescindíveis para o caldeamento e enriquecimento da vida, dando-lhes mais importância e intervenção na vida familiar e social, na vivência de uma velhice ativa e positiva, válida e fecunda.