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minhas notas

13.05.15

Mónica Lewinsky, num vídeo TED, conta-nos a experiência fulminante e dolorosa por que passou desde que em Janeiro de 1998 foi conhecido o seu caso com o ex-presidente americano, Bill Clinton. Começa por nos informar de que está profundamente arrependida desta aventura amorosa, que trouxe consequências devastadoras para a sua vida. Sabe que jamais encontrará o tira-nódoas para limpar esta mácula inapagável. Mas, no fim do vídeo, vemos uma Mónica a olhar em frente, a dizer com convicção que sobreviveu. Todos têm direito a recomeçar.

 O seu caso rebentou na era da revolução digital. Ao fim de meia dúzia de horas de ser mediático, a sua fotografia estava espalhada por todos os cantos do mundo e por todas as redes socias, sites e jornais. Sem qualquer dó nem piedade, Mónica foi sugada para o centro de um turbilhão de humilhação pública, com comentários ignóbeis, piadas torpes, julgamentos cruéis, mails infames, facilmente criados por muitos atiradores de pedras anónimos e covardes que nascem como cogumelos na internet e espalhados por muitos de forma inconsciente e insensível. Todos os nomes ultrajantes lhe foram aplicados. Não havia dia em que não sentisse que era o alvo preferido para todo o tipo de escárnio, zombaria e irrisão. «Vista por muitos, mas conhecida por poucos». Em poucos dias, perdeu toda a sua reputação e dignidade. Quase ia perdendo a vida, mas, graças à família, «sobreviveu».

 Impressionada com a tragédia do jovem americano Tyler Clementi, que em 2010 se suicidou depois de ser divulgado na internet um vídeo de uma relação sexual com outro colega, Mónica decidiu fazer este vídeo para alertar sobre dois graves problemas nas sociedades atuais, que nos obrigam a refletir: a crueldade e a falta de ética no submundo da internet e a indústria da humilhação. Já aqui o referi mais do que uma vez, o submundo da internet, onde qualquer pessoa minimamente habilidosa consegue construir um site ou um blog ou participar em redes socias, com posts, artigos e comentários ao sabor da sua libertinagem e dos seus humores, veio pôr a nu a malcriadez, a boçalidade, a incivilidade e a ominosa falta de valores dos tempos atuais. É de ficar estupefacto com a facilidade com que hoje em dia se insultam e se humilham os outros e se comenta e expõe a vida das pessoas, sem a mínima capacidade de escuta e de diálogo e sem qualquer mínimo respeito pelos outros, o que não deixa de ser sinal de um profundo mal-estar no íntimo das pessoas e de como estamos empobrecidos como pessoas humanas. Na sociedade da globalização e da mediatização, como é esta em que vivemos, há uma execrável indústria da humilhação, comandada por alguns órgãos de comunicação social e seus apaniguados, que anda só em busca do que é escandaloso, abjeto, vergonhoso e imoral, ou seja, o sensacionalismo. E quanto pior, melhor, tudo fazendo para que o falatório e o impacto sejam cada vez maiores. Assim poderá vender mais e quanto mais vende, mais lucros pode ter. É uma indústria que vive à custa do rebaixamento e do aniquilamento das pessoas, decepando irremediavelmente vidas a toda a hora na guilhotina escabrosa da sua ignomínia. E o que é terrível constatar é que a sociedade consome e devora esta indústria. Que mau gosto e que estranha forma de estar na vida! Qual é o diário português mais vendido em Portugal?

No seu vídeo, Mónica aponta algumas soluções, com as quais concordo: temos de empreender uma revolução humana e uma revolução digital, com ética. Vivemos numa sociedade que nos tem vindo a tornar frios e insensíveis para com os outros, vive-se numa surdez alarmante. É preciso recuperar valores fundamentais na convivência e na relação entre pessoas humanas, como são a compaixão e a empatia. Jesus Cristo disse isto, por outras palavras, há dois mil anos. O outro que está a meu lado, seja ele quem for, merece ser atendido, escutado e amado e não desprezado e humilhado. Toda a pessoa humana quer ser feliz, realizando a sua humanidade. Logo, isso implica acolhimento e total respeito pelo seu nome, pela sua diferença e pela sua dignidade. A internet é um meio fabuloso e poderosíssimo, que revolucionou o mundo. Foi criada para se comunicar e partilhar dados e para facilitar e agilizar a vida das pessoas. Não deve ser usada para denegrir e humilhar os outros, nem para descarregarmos os nossos ódios, invejas e azedumes sobre os outros ou sobre a sociedade, sem o mínimo respeito por nada, nem por ninguém. A liberdade de expressão não dá o direito a insultar e a falar mal sem preocupação pela verdade e pela retidão.

Em mês de revolução, que estas também não deixem de estar nos nossos horizontes, mantendo-nos alerta para lá das muitas anestesias em que vivemos ou em que nos querem fazer viver. Temos um grave deficit de humanidade na sociedade atual, que não nos pode deixar indiferentes.

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