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minhas notas

21.06.11

Nos muitos debates a que vamos assistindo entre economistas, uma causa que apontam para a crise económica e financeira actual é o baixo consumo dos povos e cidadãos. Não havendo consumo, as empresas não escoam os seus produtos, os mercados não movimentam capital, e não havendo movimentos de capital não há capitalismo e coisa tal. A verborreia económica que está na moda. Compreendo que os economistas, enquanto economistas, tenham uma visão económica da vida e da organização social. A vida de um cidadão e de um país tem a sua vertente económica. Mas o que tem de se discutir actualmente é o modelo económico-financeiro que tem estado em vigor, que assenta muito no grado consumo exigido e impingido às pessoas. 

A pessoa humana precisa de alguns bens e produtos para viver com qualidade. É um ser de consumo. Sem esses bens, fica gravemente afectada a sua vida como pessoa humana. Mas o facto de a pessoa humana ser um ser de consumo, não significa que deva ser consumista. O consumo é adquirir os bens necessários para viver bem. O consumismo é adquirir viciosamente bens e produtos supérfluos (na sua maioria) que não servem para nada e que pouco ou nada acrescentam à vida, a não ser para proporcionar poder, exibicionismo e conformidade com a moda.

Nos últimos anos, por acção de campanhas publicitárias agressivas e persistentes, o fenómeno do consumismo ganhou forte protagonismo na vida dos povos e das pessoas. Explorando sabiamente os complexos e fragilidades da pessoa humana e metralhando obsessivamente as mentes todos os dias, o consumismo encarregou-se de criar o seu público consumista fascinado e anestesiado, a quem oferece uma enorme variedade de produtos, na sua óptica, fundamentais para a felicidade (podia-se viver sem eles, mas não é a mesma coisa…), virada para a simples curiosidade de experimentar, de querer ter algo diferente que nunca se teve, para se ser igual ou mais do que os outros. Paulatinamente moldou os valores e as crenças das pessoas. Coadjuvado magistralmente por empresas de publicidade e sagaz instrumentalização dos meios de comunicação social, incutiu nas pessoas a necessidade de ter e de usufruir coisas e mais coisas, de ser melhor e mais bonito do que os outros, de ter mais ou ser mais capaz do que os outros, de tal forma que hoje é comummente aceite que ser feliz é ser consumista e quem não consome ou tem coisas é um pobre coitado. Consumo, logo existo.

Os consumistas aí estão. Pessoas que andam todos os dias em alto frenesim e com urticária incurável, procurando a sua realização pessoal no consumo exacerbado de serviços, bens e produtos (viagens atrás de viagens, os últimos gritos da tecnologia, passeios intermináveis por centros comerciais e hipermercados, em contínuo compra, usa e bota fora), não se apercebendo que são vitimas da pressão social e dos meios de comunicação social e até de si próprios. Nunca estão totalmente satisfeitos. Nada chega. Afinal, o consumismo que lhes promete a felicidade, outra coisa não lhes dá que uma permanente infelicidade. Andam atrás de necessidades que não são senão ficção e ilusão. Porque, na verdade, não são necessidades. O consumismo é que lhes insuflou essas necessidades supérfluas, fazendo-os viver uma vida que não é real e verdadeira e desvirtuando a verdade da vida, infundindo-lhes necessidades de que verdadeiramente não têm necessidade.   

Actualmente, o consumismo é um dos grandes causadores de infelicidade para as pessoas, porque muitas caíram no desemprego e por isso não têm dinheiro para consumir como os outros, sentindo-se por isso inferiorizadas, e também é, em parte, o móbil das reivindicações sociais, porque se quer ganhar mais dinheiro para consumir mais e não para melhorar o essencial da vida, isto não pondo em causa quem luta por maior igualdade e justiça entre as pessoas.

É preciso desmontar o consumismo. A crise que actualmente vivemos e que nos vai acompanhar nos próximos anos, em certa medida, é preciosa: vai-nos ensinar a viver com o necessário e a perceber que o necessário chega para viver. E se cada um aprender a viver com o necessário, chega melhor para todos. O ambiente natural para se viver bem como pessoa é a frugalidade. Andamos atrás de muita coisa que não faz falta, que nos faz transpirar muito suor e gastar erradamente muito dinheiro. Os bens existem para as pessoas e não as pessoas para os bens. Ou numa formulação mais apurada para os senhores economistas, os modelos económicos devem estar ao serviço das pessoas e não as pessoas ao serviço dos modelos. Há mais de dois mil anos, Jesus foi muito claro: «nem só de Pão vive o homem, mas de toda a Palavra que vem da boca de Deus». 

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