14.05.11
- Então, João, como correu esta semana?
- Muito bem, senhor padre. Começamos a entrar na recta final do ano escolar.
- Como está a correr o ano?
- Muito bem, sou um aluno aplicado. Esforço-me por ter boas notas. Os meus pais merecem.
- Como é que está o convite de ires até ao seminário?
- Não sei, senhor padre. Há qualquer coisa dentro de mim, que me incita a ir. Mas por outro lado, sinto-me hesitante. Os meus pais não vão muito por aí.
- Deixa que a tua parte boa fale mais alto. Dúvidas todos têm quando vão para o seminário. Repara: és um bom cristão, gostas de participar na vida da Igreja, és um rapaz equilibrado. Já pensaste a sério, que talvez Deus te esteja a chamar para o servires? Devias ir ao seminário fazer um discernimento mais maduro.
- Uma ou outra vez, já dei comigo a pensar nisso. Mas parece-me algo tão radical. Entre os meus colegas até se goza com isso. À minha volta não vejo grandes incentivos.
- Eu sei. Estás a tocar em alguns problemas com que se debatem as vocações. Gostaria de te dizer algumas coisas importantes. Em primeiro lugar, há que sublinhar que as vocações são responsabilidade de todos dentro da Igreja. Não é só do bispo ou do padre. As famílias e as comunidades cristãs têm uma grande cota de responsabilidade.
- A minha família, por exemplo, não dá grande exemplo. Até vai à missa, mas vive indiferente quanto a isto.
- É a tua e a de muitos. Os pais cristãos perderam o gosto de dar um filho a Deus e à Igreja. Todos lamentam a falta de padres, mas ninguém está disposto a encaminhar o seu filho para o sacerdócio. Depois, João, não há uma cultura de vocações nas comunidades cristãs, que favoreça o chamamento de jovens ao sacerdócio. Às vezes, até há uma contra cultura. Brinca-se e goza-se com os seminaristas, deprecia-se o papel e o ministério do padre, enxovalha-se o celibato (por ignorância), não se apresenta a beleza do sacerdócio como deve ser, fala-se mal dos padres.
- Olhe que é verdade, senhor padre. Repare que ainda ninguém da comunidade me tocou no assunto. As pessoas gostam de falar de outras coisas…
- Eu sei, João. Vou aprendendo a sentir a comunidade. Além do mais, meu caro João, vivemos temos de frieza e indiferença em relação à religião. Como a sociedade não transmite encanto e calor pelas coisas religiosas, os corações não despertam. Optar por Deus dá a impressão de ser uma decisão de quem não tem juizinho ou de ser meio tolo.
- Sinto muito isso, senhor padre. Há um desprezo pela religião e uma crítica geral à hierarquia da Igreja que mina seriamente o campo do nascimento de vocações.
- E nós, cristãos, em vez de propormos a sério algo novo e diferente, deixamo-nos ir na onda, muitas vezes. Esta semana chega ao fim a semana de oração pelas vocações. Foi uma semana de súplica a Deus. Mas também, e acima de tudo, uma semana de reflexão. A raiz de todo o problema da falta de vocações está na autenticidade do nosso amor a Deus e à Igreja. Não esquecendo as dificuldades sociais que as vocações enfrentam, elas, contudo, não justificam tudo. Falta-nos é mais amor a Deus e à Igreja de Jesus Cristo. Não tenhas dúvidas de que se as famílias cristãs viverem impregnadas de espírito cristão e se as nossas comunidades forem espaços de verdadeira vivência religiosa, as vocações aparecerão. Vai fazendo a mala, que um dia destes vais conhecer o seminário.