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minhas notas

15.04.10

A nona bem-aventurança

DN 2010.04.12

JOÃO CÉSAR DAS NEVES

Um dos fenómenos mais espantosos da história da humanidade é o ataque
à Igreja. Esse processo, tão aceso estes dias, é sempre muito curioso.

Primeiro pela duração e persistência. Há 2000 anos que os discípulos
de Cristo são perseguidos, como o próprio Jesus profetizou. E cada
ataque, uma vez começado, permanece. A Igreja é a única instituição a
que se assacam responsabilidades pelo acontecido há 100, 500 ou 1500
anos. Os cristãos actuais são criticados pela Inquisição do século
XVII, missionação ultramarina desde o século XV, cruzadas dos séculos
XI-XIII, até pela política do século V (no recente filme Ágora, de
Alejandro Amenábar, 2009).

Depois, como notou G. K. Chesterton em 1908, o cristianismo foi
atacado "por todos os lados e com todos os argumentos, por mais que
esses argumentos se opusessem entre si" (Orthodoxy, c. VI). Vemos
criticar a Igreja por ser tímida e sanguinária, pessimista e ingénua,
laxista e fanática, ascética e luxuosa, contra o sexo e a favor da
procriação, etc. Mas o mais espantoso é que os ataques conseguem
convencer-nos daquilo que é o oposto da evidência mais esmagadora.

Os iluministas provaram-nos que a religião cristã é a principal
inimiga da ciência; supersticiosa, obscurantista, persecutória do
estudo e investigação rigorosos. A evidência histórica mostra o
inverso. A dívida intelectual da humanidade à Igreja é enorme. Devemos
a multidões de monges copistas a preservação da sabedoria clássica.
Quase tudo o que sabemos da Antiguidade pagã veio dos mosteiros. Foi a
Igreja que criou as primeiras universidades e o debate académico
moderno. Eram cristãos devotos os grandes pioneiros da ciência, como
Kepler, Pascal, Newton, Leibniz, Bayes, Euler, Cauchy, Mendel,
Pasteur, etc. Até o caso de Galileu, sempre citado e distorcido,
mostra o oposto do que dizem.

Depois, os jacobinos asseguraram-nos que a Igreja é culpada de
terríveis perseguições religiosas, étnicas e sociais, destruição
cultural de múltiplos povos, amiga de fogueiras e câmaras de tortura,
chacinas, saques e genocídios. No entanto, a evidência de 2000 anos de
história real de cristãos concretos é de caridade, mediação,
pacifismo. Tudo o que o nosso tempo sabe de direitos humanos,
diplomacia, cooperação e tolerância foi bebê-lo a autores cristãos.

A seguir, os marxistas vieram atacar a Igreja por ser contra os
proletários e a favor dos ricos. Quando é evidente o cuidado
permanente, multissecular e pluricultural dos cristãos pelos pobres e
infelizes, e as maravilhas sociais da solidariedade católica no apoio
aos desfavorecidos.

Vivemos hoje talvez o caso mais aberrante: a Igreja é condenada por...
pedofilia. A queixa é de desregramento sexual, deboche, perversão. Mas
a evidência histórica mostra que nenhuma outra entidade fez mais pelo
equilíbrio da sexualidade e a moralização da vida pessoal da
humanidade. Mais uma vez, o ataque nasce do oposto da verdade.

Serão as acusações contra a Igreja falsas? Elas partem sempre de um
núcleo verdadeiro. Houve cristãos obscurantistas, persecutórios,
cruéis, injustos, luxuosos, como hoje há padres pedófilos. Aliás, em
2000 anos de história, e agora com mais de mil milhões de fiéis, tem
de haver de tudo. A distorção está na generalização ao todo de casos
particulares aberrantes. Não sendo tão má quanto o mito, a Inquisição
foi péssima. Mas a Inquisição não representa a Igreja e a própria
Igreja da época a condenou. Os críticos nunca combatem os erros,
sempre a instituição. Hoje não se ataca a pedofilia na Igreja, mas a
Igreja pedófila.

A razão do paradoxo é clara. Cada época projecta na Igreja os seus
próprios fantasmas. Ninguém atropelou mais o rigor científico que os
iluministas. Ninguém foi mais sangrento que os jacobinos. Ninguém
gerou maior pobreza que os marxistas. Ninguém tem mais desregramento
sexual que o nosso tempo.

O ataque à Igreja é uma constante histórica. A História muda. A Igreja
permanece. Porque ela é Cristo. Dela é a nona bem-aventurança:
"Bem-aventurados sereis quando vos insultarem e perseguirem" (Mt 5,
11).

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