21.10.16
No dia 14 de Agosto, a Junta de Freguesia de Pinho e a Câmara Municipal de Boticas homenagearam postumamente o Padre Arnaldo Moura, falecido no dia 28 de Março de 2015. Inaugurou-se um largo com o seu nome e benzeu-se um busto em sua honra, com a presença do Senhor Bispo D. Amândio Tomás e alguns padres, autoridades, povo de Pinho, terra natal do P. Arnaldo Moura, antigos paroquianos e amigos. Foi também apresentado o livro «Memórias do Padre do Povo», da autoria da escritora Maria Assunção Morais, uma coletânea de depoimentos e testemunhos de muitas pessoas que se relacionaram e privaram com o P. Arnaldo Moura. Ultimamente, o P. Arnaldo participava na festa dos Mouras que se realizava em Montalegre.
Felicito a Junta de Pinho e a Câmara Municipal de Boticas pela justa homenagem que realizaram a um grande homem do Concelho e a um bom padre da Diocese de Vila Real. Por razões de trabalho, não pude estar presente, mas não ficaria bem comigo mesmo se não escrevesse duas singelas palavras sobre o P. Arnaldo Moura.
Não foi com ele que entrei para o seminário, mas, quando passou a ser o pároco de Beça, acompanhou-me durante algum tempo no seminário. Desde logo, manifestou atenção, preocupação e acompanhamento generoso, incentivando e dando pequenos conselhos, com aquela candura e doçura que lhe era característica.
No meu ano de estágio, sendo já o meu pároco o padre Luís Sanches, veio amavelmente ter comigo, pedindo-me que o acompanhasse em algumas festas para dizer «duas palavras» ao povo, porque, segundo dizia, «já estava na hora de começar a enfrentar o povo e de passar à «prática» da pastoral». E desde logo, com a sua voz macia, sentenciou com jocosidade, aconselhando pregações curtas e incisivas: «Não te esqueças para a vida: nos primeiros cinco minutos mexes os corações, daí para a frente só mexes os cus». Nestes momentos, pude, sobretudo, presenciar a forma alegre, humana, dedicada e profundamente espiritual como vivia o sacerdócio.
Entretanto, só nos passámos a ver esporadicamente, até que começaram a ser conhecidos os seus problemas de saúde. Uns meses antes da sua morte, ainda tivemos a oportunidade de estar à mesa, a convite de um amigo, surpreendendo pelo bom apetite e mantendo a boa disposição e presença agradável que não deixava ninguém indiferente. Já era notória a sua grande fragilidade, pela ajuda que precisou para ir para o carro.
No dia 28 de Março de 2015, chegava a triste, mas esperada, notícia do seu falecimento. No seu funeral esteve presente uma multidão de pessoas, das várias paróquias que serviu e das várias instituições onde foi capelão, assim como amigos em geral. Com ele aprendi a ser homem e a ser padre, sendo por isso uma das figuras marcantes da minha vida. Se lhe chegar aos calcanhares, dar-me-ei por contente.
A sua vida não sobressai pelas grandes obras ou feitos, mas pela forma extraordinária como vivia o simples da vida, o padre para o povo e a relação com os outros. Falar do P. Arnaldo é falarmos, antes de mais, de um homem de grande humanidade, um ser humano polido. Tocou-nos pelos valores humanos da amizade franca, amabilidade, simpatia, simplicidade, bondade, disponibilidade, cortesia, sensibilidade, compaixão, abertura e acolhimento. Impôs-se pelo sua generosidade e desprendimento, não tinha vaidade balofa e pretensiosismos. Como padre, era zeloso, dedicado, serviçal, orante, alegre, de grande vivência espiritual. A tudo isto acrescentava uma boa dose de boa disposição e o bom humor.
Só Deus sabe quem é santo. Mas, se não o foi, esteve lá muito perto. Aprendamos dele a saber estar na vida com simplicidade, humildade, dignidade, liberdade, humanidade e santidade.