22.04.10
1.O Jornal Expresso, na edição do dia dois de Abril, publicou uma reportagem, da autoria de Cristina Bernardo Silva e Joana Pereira Bastos, sobre a elevada ocorrência do suicídio na terceira idade. Os dados dão que pensar: em 2008, 456 idosos suicidaram-se em Portugal, aumentando de ano para ano; metade das pessoas que se suicidam são idosas, na sua maioria homens; a região do Alentejo é a que tem a mais alta taxa de suicídio. Todos temos culpa nestes números, porque damos pouca atenção e importância aos idosos e alimentamos um ambiente geral de indiferença pelos mais velhos. Alguém disse um dia, penso que Gandhi, que a grandeza de uma sociedade vê-se na forma como trata os mais frágeis.
Enquanto todo o mundo se escandaliza com os abusos que foram infligidos a crianças e adolescentes, sem dúvida condenáveis, parece que existem outras pessoas e outros números, e se quisermos, outros abusos que pouco ou nada nos importam. Como impera actualmente uma visão hedonista, produtiva e utilitária da vida, já se percebeu há muito que os mais velhos são o elo mais fraco nas sociedades actuais. Ao invés, centramos todas as atenções nas crianças e nos jovens, a quem não pode faltar nada, com uma parafernália de técnicos e especialistas ao seu dispor, mimando-os com tudo e mais alguma coisa, chegando-se até ao cúmulo de pedir créditos para os estragos que os meninos fazem ou poderão vir a fazer. Será que estamos bons da cabeça? Aliás, já estamos a sentir nas escolas as consequências da educação irresponsável e permissiva que tem estado em voga nos últimos anos. Como as crianças e os jovens têm excesso de atenção, ela falta para outros que não deveriam deixar de ter a mesma atenção, os idosos.
Fico furibundo quando ouço dizer que os mais velhos «já não servem para nada» e que, por isso, o melhor que fazem é encostarem-se a um canto como uns inúteis e, resignados, esperarem o dia da morte. Faz-se assim passar a ideia de que estão cá a mais, são um peso e um estorvo para os outros, que «têm mais que fazer» do que estar a perder tempo com quem já não tem saúde e não ganha dinheiro. Será que temos o direito de cometer tamanha desumanidade? Os mais velhos estão a pagar a factura da sociedade do bem-estar, que os sábios contemporâneos tentam construir a todo o custo. Porque quando se fala de bem-estar, fala-se em sentido egoísta – o meu bem-estar – desenvencilhando-me de tudo o que me importuna e estorva, sejam bens ou pessoas. Sem qualquer sensibilidade humana e social, e já nem digo gratidão, porque está em crise há muito tempo, condenamos os mais velhos a um fim de vida cheio de solidão, abandono, exclusão social, desespero e amargura, ao qual muitos não resistem, optando pelo suicídio. A ciência médica lança cada vez em maior número medicamentos que aumentam a longevidade da vida humana, não faltando quem se congratule com isso todos os dias. Mas para quê? Para se acabar assim, abandonado por tudo e por todos, sem uma réstia de carinho e de esperança ou a dar a impressão de que se é um empecilho para os outros?
É bom que se diga que as pessoas são o mais importante da vida e nada deve estar acima delas. Todos temos o dever de cuidar uns dos outros, sobretudo dos mais frágeis. Os mais velhos, que muito deram à sua família, aos seus amigos e à sua actividade, merecem um fim de vida digno e humano. E a nossa sorte é que temos uma rede de lares, que realizam um trabalho de grande apreço neste campo, porque, então, meus amigos, os números seriam bem piores.
Por outro lado, penso que é tempo de se repensar a velhice, nomeadamente na forma como a encaramos e na relevância social que lhe damos. Durante anos e anos construímos a ideia de que a velhice é a idade da apatia, da resignação, do não fazer nada «porque já nada vale a pena», reduzindo-se a vida a um acumular de experiências que se esgotam e não a uma grande experiência que realiza e se aprofunda. É um conceito pobre da velhice. Porque será que quanto mais vivemos, menos vontade temos de viver? Há aqui qualquer coisa que não está bem, humana e espiritualmente falando. Não esqueço que, como pessoas humanas, temos uma grande componente física, que declina com o passar dos anos.Com a velhice vem a doença, que por vezes tem uma força quase insuperável, a indisponibilidade para muita coisa, mas não deixamos de ser pessoas. E dá-me a impressão que pior do que perder a força física, é que chegamos à velhice sem estrutura mental e espiritual, reconciliados com a vida e o mundo. Pior do que termos um corpo velho, é termos uma alma (se quisermos, uma interioridade) velha, que nos impede de continuar a crescer como pessoas. A velhice proporciona-nos mais tempo para acções e actividades, que não exigem grande esforço, para as quais nos queixámos de não ter tempo durante a vida e que podemos aproveitar para nos humanizarmos.
2.Os casos de pedofilia cometidos por padres católicos, sem dúvida inexplicáveis, continuam no centro das atenções. Como não podia deixar de ser, estamos a entrar na fase do empolamento, que não tem a mínima justificação, com muitas mentiras, manipulação de informação e sensacionalismo. São actos que foram cometidos por uma pequeníssima parte dos membros do clero. Não tenho a mínima dúvida de que há alguém que quer atacar os fundamentos e a autoridade da Igreja Católica. Porque se a sociedade está assim tão preocupada com a pedofilia, porque é que nos Estados Unidos da América foram condenados seis mil professores de ginástica pelo mesmo crime e ninguém fala disso? Porque é que nos Estados Unidos os pastores protestantes cometeram maior número de delitos ligado à pedofilia e nem de um caso se houve falar? A sociedade estará assim tão pura e inocente para poder julgar impiedosamente a Igreja Católica? E não esqueçamos quantos padres não estarão a ser acusados injustamente, começando-se a saber agora que ainda são muitos, porque muita gente está à espera de fazer negócio com isto tudo, porque para muitos a justiça é negócio. Como o que se passou com o grande musicólogo, o Cónego Ferreira dos Santos, Cónego da Lapa, no Porto, descobrindo-se que era um indivíduo que andava a fazer chantagem, acusando-o injustamente de pedofilia. Alguém se preocupa agora com a boa fama do Cónego?