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minhas notas

21.05.09

Vivemos num tempo que, tendo muito cuidado com o que mete no estômago e pulmões, não dá atenção ao que mete no cérebro. A cada passo ouvimos recomendações sobre saúde, alimentação e ambiente, multiplicam-se os produtos dietéticos, actividades saudáveis, locais sem fumo.

Ao mesmo tempo todos passam horas a absorver o pior lixo mental na televisão, computador, livros e revistas.
Filmes boçais, sites infames, programas idiotas, revistas escabrosas, videojogos obscenos, séries imbecis constituem a dieta intelectual dos cidadãos, tão conscientes da sua saúde física. Na ficção como nas notícias, a violência extrema, pornografia descarada, egoísmo, gula, desonestidade são produtos comuns.

Assim é inevitável a descida ao abismo espiritual a que se assiste. Sabemos bem que se não tivermos cuidado com a nutrição e não atendermos aos equilíbrios ambientais cairemos na obesidade e a poluição será avassaladora. Não admira portanto que, recusando-nos a formular orientações para o espírito, se acabe na decadência ética e estética. Isso em nome da liberdade, que rejeitamos na saúde e ambiente.

A razão da situação é clara. Os nossos avós, sem cuidado com comida, fumo e ecologia, eram moralistas intolerantes. Nós, censurando-os asperamente, corrigimo-los cuidando do corpo e libertando o espírito. Isso foi-nos fácil porque, afinal, os erros sanitários e a ditadura moral em que nos educaram não eram tão graves que nos impedissem de reagir. Os nossos netos saudáveis terão muito mais dificuldade em recuperar da porcaria intelectual em que nós os educámos.

 

                                      João César das Neves    Jornal Destak, 21.5.2009

20.05.09

As messes da veiga de Beça, na fronteira com Carreira da Lebre

São bonitas neste tempo as veigas

Tudo verdinho

Lameiros de Beça

Aldeia de Beça, vista da Veiga

Uma das margens do Rio Beça

Messes e lameiros junto ao Rio Beça

tudo verdinho...

Gado barrosão a pastar

Represa do Rio Beça 

Ponte Pedrinha sobre o Rio Beça

Ponte mítica

Quantos pezinhos aqui não passaram...

Ainda está robusta

Se não houvessem rios perderíamos a beleza das pontes...

Na vida é fundamental contruir pontes

Nem que o anel seja pequeno...

Já aqui fiz uma boa pescaria, um certo dia...

o rio leva pouca água

Um velho moínho

Nova ponte sobre o Rio Beça

Em pleno paraíso

Parque de lazer junto à ponte nova

A imponência dos lameiros

Fim

Não deixem de visitar

Deixo-vos um poema de Miguel Torga:

A terra

Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.

Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.

Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!

Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.

Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!

E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.

Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!

A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.

Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!

20.05.09


O Deus que mete medo
Jesus Cristo libertou-nos desta falsa imagem do Deus que mete medo. Não podemos ter medo de Deus. Deus é purificador, é exigente, mas trata-se de uma exigência libertadora.
Há muitos católicos que têm medo do "castigo de Deus". Olham para Deus como se Ele fosse um polícia disposto a dar cacetada à primeira infracção.
As dificuldades, a dureza, o sofrimento, as doenças da vida não são castigos de Deus. Há gente que pratica a religião por medo: vai à missa por medo, pois se não for, pode ser castigado. Há gente que tem sempre as contas
acertadas, cumpre os seus deveres com Deus por medo do inferno. A fidelidade a Deus não pode vir do medo. Este é um comportamento infantil. As crianças agem muito por causa do medo de serem castigadas. Nós temos de ser adultos na fé. Temos de praticar a religião por amor, cumprir os deveres religiosos por amor a Deus, não por medo de Deus.
Nestes tempos há seitas que falam no fim do mundo e procuram explorar o medo das pessoas. Não podemos ouvir as suas vozes.
Deus concedeu-nos a liberdade para a usarmos bem. Nós não somos
donos absolutos da nossa vida, nem das coisas. Somos administradores, responsáveis pela vida, pelas coisas e devemos saber usá-las bem, sabendo que Deus nos acompanha com a sua força para sabermos viver bem os acontecimentos e transformá-los em momentos de crescimento e de santificação.
Um dia teremos de dar contas a Deus, mas isso não nos deve meter medo. Devemos usar bem a nossa liberdade porque é assim que seremos felizes neste mundo e no mundo que há-de vir
.

 

19.05.09

Frei Bento Domingues, que escreve todos os Domingos no Público, escreveu assim no Público de 17 de Maio: «Os textos da liturgia deste Domingo (17.5.2009) fazem parte da constituição da originalidade cristã. Dizem que só lhe pertence o que serve a nossa alegria. Deus não faz acepção de pessoas, seja qual for a sua religião ou cultura, porque o amor que Deus lhes tem é incondicional e o seu mandamento é insubstituível: amai-vos uns aos outros. Que terá acontecido para que a alegria não seja o rosto das Igrejas cristãs, tantas vezes, coberto por normas e ritos de exclusão e de tristeza?» 

 

O que é que mais gosta e desgosta actualmente na Igreja Católica?

15.05.09

- Ó Senhor Padre, confesso que o purgatório me mete alguma confusão…Já ouvi de tudo acerca dele…

- Olha, João, essa confusão deve andar na cabeça de muita gente, porque eu também já ouvi muita coisa errada sobre o purgatório. Convém saberes que a igreja foi conhecendo aos poucos a Palavra de Deus contida na Bíblia, a sua interpretação e compreensão hoje é melhor, e que muitas verdades da Igreja vão amadurecendo com os tempos. Cada época tem a sua forma de entender e dizer as coisas, e como os conhecimentos evoluem, hoje entendemos de uma maneira diferente e corrigimos alguns exageros de outros tempos. Foi uma forma de dizer às pessoas que se deve viver responsavelmente e com juízo e que tudo vai ter uma retribuição, o bem e o mal.

- Então o que é o purgatório?

- Olha, antes de mais, é um momento e não um lugar. Após a morte, por força de algum pecado e imperfeição que levamos em nós, Deus submete-nos a um momento de purificação, que não é só limpar-nos do pecado, mas também capacitar-nos para O amarmos como Ele nos ama. Portanto, o purgatório é um momento de graça que Deus, no seu amor, concede aos seus filhos para que possam estar depois em comunhão total com Ele no Céu.

- Mas vai ser um momento de sofrimento e de tormentos…

- Lá estamos a chegar aos exageros, João. De certeza que já ouviste que há lá caldeiras a arder onde as almas vão ser castigadas, um fogo abrasador que atormentará as almas e por aí fora. Olha e não digo mais nada porque até fico chocado com todo esse discurso. Nunca sentiste na morte de um amigo uma grande dor no coração porque ainda poderias ter sido mais amigo dele? Vai ser o sofrimento que vamos ter no purgatório. Quando contemplarmos a grandeza e a beleza do amor de Deus e o quanto Ele nos ama e percebermos o quanto não correspondemos a esse amor na vida, por causa da mediocridade e mesquinhez do nosso amor, sentiremos uma grande dor no coração. Podíamos ter sido muito melhores do que aquilo que fomos, e tudo por culpa nossa. O sofrimento será pelo facto de não nos vermos em comunhão total de vida e de amor com Deus…

- Realmente assim faz mais sentido, Senhor padre. Se Deus realmente é tão bom, como é que poderia ter feito um purgatório tão horrível? E que dizer das imagens do purgatório que existem nas alminhas e nas Igrejas, com todo aquele cenário sofredor?

- Olha, fazem parte de um tempo. Mas tens a obrigação de olhar para elas com outros olhos. O fogo que lá vês é o amor de Deus que nos abrasará. Procura viver de maneira responsável, amando a Deus e o teu próximo. Deus será sempre bom connosco, mas também não poderá deixar de ser justo. Na vida não vale tudo. Vivendo santamente estarás no bom caminho…

15.05.09

 

- Senhor Padre, na nossa última conversa falámos do purgatório e espero que tenhamos esclarecido um pouco mais as pessoas.

- Eu também espero que sim, João. Há muitas coisas que dizemos e em que acreditamos que não têm sentido nenhum.

- Então, já agora, Senhor padre, seria oportuno falarmos do Inferno. Acho que também há muita confusão e uma má compreensão do inferno.

- É verdade, João. Cometeram-se muitos exageros à volta dele: tanto na pregação (e aqui, nós padres, temos de bater um pouco no peito), na catequese, na moral cristã, entre outras coisas, de maneira que muitos cristãos interiorizaram que o mais importante era “fugir” ao inferno e o céu logo se veria. Estou a brincar um pouco, João, mas era assim que as pessoas pensavam…Chamo-lhe a esse tempo a “religião do medo”. As pessoas faziam as coisas, não por amor a Deus e aos outros, mas com medo dos castigos de Deus. Não se educou as pessoas para viverem uma fé adulta, no amor. Fica a saber que há pessoas que tinham e têm pesadelos com aquilo que ouviam do inferno. Como foi possível chegarmos a isto? E o que mais me entristece é que ensinámos uma imagem de Deus errada: um Deus vingativo, que, por iniciativa dele, te faz pagar pelo mal que fizeste. Não foi isso que Jesus ensinou…

- Então, Senhor padre, o que é o inferno?

- João, nós aprendemos na catequese que os novíssimos do homem, isto é, as últimas realidades que vamos encontrar, são os seguintes: morte, juízo, inferno, paraíso. Após a morte, teremos o juízo de Deus sobre a nossa vida, e depois deste há duas possibilidades: o inferno ou o paraíso. O inferno será o estado de todos aqueles que livremente não quiseram amar a Deus, que pecaram gravemente contra Ele, contra o próximo e contra si mesmos, e que recusaram até ao fim da vida, acreditar e converte-se.  Jesus advertiu-nos de que seremos separados d’Ele se formos indiferentes às necessidades dos pobres e dos pequeninos seus irmãos. Diz o catecismo da Igreja Católica que «morrer em pecado mortal sem arrependimento e sem dar acolhimento ao amor misericordioso de Deus significa permanecer separado d’Ele para sempre, por nossa própria livre escolha. E é este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa de Inferno». «A principal pena do inferno consiste na separação eterna de Deus, o único em Quem o homem pode ter a vida  e a felicidade para que foi criado e a que aspira».

- Ora, se estou a entender, Senhor padre, o inferno não é um lugar, mas um estado, a grande pena do inferno é a separação de Deus para sempre, é uma consequência do mau uso da nossa liberdade, pois Deus não predestina ninguém para o inferno, nem o deseja para o homem…

- Isso mesmo, João, os ensinamentos da Igreja sobre o inferno são um apelo ao sentido de responsabilidade com que o homem deve usar da sua liberdade, tendo em vista o destino eterno. Constituem, ao mesmo tempo, um apelo urgente à conversão. Quem tiver uma aversão voluntária a Deus durante toda a vida e nela persistir até ao fim, outro destino não terá que o inferno. Quem não quis saber de Deus e dos outros na vida, como poderá depois estar junto de Deus e dos outros na vida eterna? Como já te disse, Deus é bom connosco, mas não poderá deixar de ser justo.  Há que acolher o seu amor ao longo de toda a vida.

 

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