22.05.09
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22.05.09
22.05.09
No dia 15 de Março, o Jornal Público publicou um estudo sobre as mudanças que estão a acontecer na forma como se está a morrer nas sociedades contemporâneas. A jornalista Alexandra Campos serviu-se, para isso, da tese de mestrado em Bioética do Padre José Nuno, actual Capelão do Hospital de S. João, no Porto, e Coordenador Nacional e Diocesano dos Capelães Hospitalares, padre que tive o privilégio de ter como prefeito e educador durante um ano no Seminário do Porto. Uma das grandes conclusões a que o P. José Nuno chegou na sua tese de mestrado, é que, no espaço de uma geração, o local da morte transferiu-se de casa para o hospital. A morte deixou de ser um passo íntimo, em família. Se, em 1970, 80% dos doentes morriam em casa, hoje em dia só um terço das pessoas morre em sua casa, acontecendo mais no Norte que no Sul. Diz o P. José Nuno, “no século XX a atitude do homem perante a morte mudou. E, como a atitude mudou, mudou o modo de morrer”. Os hospitais não estavam preparados nem sensibilizados para esta realidade e daí que agora se esteja a desenvolver todo um esforço de domiciliação e humanização do hospital, alargando-se a rede de cuidados paliativos, que ainda só dão resposta a 10% das necessidades, e permitindo-se a presença de familiares nos últimos momentos de vida do doente, já que ninguém quer morrer sozinho, sem um último olhar ou aperto de mão.
Porque é que estas mudanças aconteceram? Todos, possivelmente, queremos ter uma morte íntima, em família, é a mais digna de uma pessoa humana. Todos guardamos na memória aquelas imagens de um pai ou mãe que gostava de reunir à sua volta toda a sua família e deixar-lhe as últimas recomendações e, sentindo o calor e os últimos afagos da família, cerrar lentamente os olhos. É a morte serena e reconciliada. Infelizmente, a nossa sociedade começou a ver esta forma de morte como sinal de atraso e até de negligência, o que não é verdade, e instalou-se a ideia de que morrer bem é morrer num hospital, ligado às máquinas. É verdade que se deu uma grande mudança na realidade familiar e hoje é praticamente impossível a muitas famílias acompanhar um doente até ao fim da sua vida. Mas as razões destas mudanças são mais profundas: em primeiro, a nossa indisponibilidade para nos dedicarmos a quem quer que seja, já que o importante sou eu e a minha vida, muito menos a alguém que já é “inútil”, que possivelmente até fez muito por nós, mas que facilmente esquecemos num estalar de dedos, e, em segundo, a sociedade do bem-estar que decretámos nos últimos anos, que não demorará muito a falir, que não suporta o espectáculo do sofrimento e da morte nem o convívio com os que sofrem e os que morrem, como o P. José Nuno sublinha na sua entrevista. Proclamou-se que só se deve mostrar e conviver com o que torna a vida gira, gozosa, alegre, curtida, escondendo-se a morte, não vá isso traumatizar alguém, como se ela e o sofrimento ligado a ela não fizessem parte da vida… Repare-se como o luto não tem nenhum valor para as novas gerações e quem se dispõe a vivê-lo, nem que seja num curto espaço de tempo, é logo apelidado de antiquado e retrógrado. E pior ainda é o fenómeno da americanização da morte a que já começamos a assistir, iludindo-se a morte, mascarando o cadáver e pondo-o mais bonito do que quando estava vivo, tentando-se assim suavizar o “choque” da morte. Esquecer a morte e tudo fazer para eliminar o mínimo vestígio da sua presença na vida não é senão preparar as pessoas para uma má morte ou uma má vivência da morte. Seja qual for o lugar da morte, que ninguém deixe de ter a devida assistência e atenção para morrer com dignidade e evite-se a todo o custo que alguém morra abandonado.
22.05.09
22.05.09
«Temos a necessidade de reformar radicalmente o actual modelo de ensino nas universidades e escolas secundárias. Porquê? Porque actualmente o conhecimento está desintegrado em fragmentos disjuntos no interior das disciplinas, que não estão interligadas entre si e entre as quais não existe diálogo», sublinha, em entrevista à Lusa.
O filósofo francês considera que o modelo actual leva a «negligenciar a formação integral e não prepara os alunos para mais tarde enfrentarem o imprevisto e a mudança».
Edgar Morin, de 88 anos, critica, por exemplo, que nas escolas e universidades «não exista um ensino sobre o próprio saber», ou seja, sobre «os enganos, ilusões e erros que partem do próprio conhecimento», defendendo a necessidade de criar «cursos de conhecimento sobre o próprio conhecimento».
Lamenta, igualmente, que a «condição humana esteja totalmente ausente» do ensino: «Perguntas como 'o que significa ser humano?' não são ensinadas», critica.
Por outro lado, acredita que a «excessiva especialização» no ensino e nas profissões produz «um conhecimento incapaz de gerar uma visão global da realidade», uma «inteligência cega’».
«Conhecer apenas fragmentos desagregados da realidade faz de nós cegos e impede-nos de enfrentar e compreender problemas fundamentais do nosso mundo enquanto humanos e cidadãos, e isto é uma ameaça para a nossa sobrevivência», defende.
«Está demonstrado que a capacidade de tratar bem os problemas gerais favorece a resolução de problemas específicos», garante Morin, lembrando que a maioria dos grandes cientistas do século XX, como Einstein ou Eisenberg, «além de especialistas, tinham uma grande cultura filosófica e literária».
«Um bom cientista é alguém que procura ideias de outros campos do conhecimento para fecundar a sua disciplina», afirma, sublinhando que «todos os grandes descobrimentos se fazem nas fronteiras das disciplinas».
Garante também que «apesar de em muitas universidades norte-americanas existir maior flexibilidade no que toca ao modelo ensino», nos Estados Unidos existe o «mesmo problema que na Europa».
Notícia do Jornal Destak 21.5.2009
21.05.09
Decorre em alguns países europeus, e parece que em breve chegará a Portugal, uma campanha publicitária ateísta curiosa, mas ao mesmo tempo intrigante. Foi lançada o ano passado pela Associação Humanista Britânica, que colocou cartazes em trinta autocarros de Londres. O slogan lacrado nos autocarros, inspirado no cientista ateu Richard Dawkins e criado pela jornalista Ariane Sherine, diz o seguinte: «Deus provavelmente não existe. Deixe de se preocupar e goze a vida». A mesma campanha está a chegar a outras grandes cidades europeias, como Barcelona, Madrid, já chegou inclusive a Washington, capital americana, e até já foi adoptada nalgumas cidades australianas, embora os slogans sejam diferentes: em Washington é «Para quê acreditar num Deus? Seja bom por amor da bondade», e na Austrália é «Ateísmo – fique a dormir no Domingo de manhã». As organizações ateístas são livres de expressar as suas “crenças”. Mas já se percebeu que todas estas campanhas têm na sua base um ateísmo cool, que não se reveste da mesma ferocidade e agressividade do ateísmo militante de outros tempos. Basta tomar atenção ao “provavelmente”. É um ateísmo de forte pendor comodista. Não se trata de negar a existência de Deus, mas de O afastar da vida, eliminando toda e qualquer influência que possa exercer sobre o homem moderno, que quer viver ao sabor da sua vontade e do seu comodismo, que quer ter todo o tempo do mundo para desfrutar o que muito bem lhe apetece. Os slogans não podem deixar de levantar muitas perguntas, mas concentro-as numa: é necessário prescindir de Deus para se gozar a vida? Mais uma vez está em causa a imagem que se faz de Deus. Em vez de se ver Deus, e aquilo que Ele propõe, como Alguém que dá transcendência e densidade à vida, Alguém que possibilita viver a vida na sua verdade e profundidade, logo verdadeiramente feliz, pelo contrário, Deus é visto como um inimigo da vida e da felicidade, que parece que tem gosto em complicar a vida ao homem e em sobrecarregá-lo com regras e pesos que vão contra o seu maior bem e realização. Nada mais inverosímil. Pergunto: Deus não deixa gozar a vida. Ou será que sem Deus a vida não é um gozo? Seria bom que muitos destes ateus confessos (alguns até serão baptizados) lessem com serenidade a parábola do Filho Pródigo, que se encontra nos Evangelhos, no Novo Testamento, que é considerada um resumo da obra de Jesus Cristo e do seu Evangelho. À imagem do filho mais novo que abandonou a casa paterna, uma das ilusões modernas, que mais tarde ou mais cedo é fonte de grande sofrimento para o homem, é de que só será feliz quando viver livre de tudo e de todos, sem qualquer amarra, quando puder mandar sozinho no seu destino e só por si decidir o que é bom e o que é mau para si, como se se bastasse a si mesmo. É a tentação do homem moderno. A parábola descreve magistralmente a degradação e o desnorte a que o homem chega, fazendo esta opção, esquecendo a sua dependência e fragilidade. Após tomar consciência da baixeza e infelicidade a que chegou a sua vida, o filho empreende o regresso à casa paterna. Afinal, em casa do pai era verdadeiramente feliz. Quando era obediente, era livre. Quando amava, humanizava-se. Quando fazia comunhão com os outros, era digno e respeitado. E como é que o pai o recebeu? Abraça-o, recupera-lhe a dignidade e organiza uma festa. Repito: organiza uma festa. Onde é que está o Deus que é hostil à alegria de viver? O perigo desta campanha ateia, que se está a organizar em várias grandes cidades mundiais, não é o de pôr em causa a crença em Deus ou lançar a confusão nas mentes mais incautas e sensíveis, que até poderá acontecer: é o de vender um ideal que empobrece e degrada o homem, transmitindo a ideia de que a felicidade está no prazer, sob todas as suas formas, na irresponsabilidade, no descompromisso, na libertinagem, na facilidade, no fugir ao esforço e ao sacrifício, no satisfazer de todo o tipo de apetites, sem qualquer exigência moral e ética. Não tenho dúvidas de que é o pior caminho que podemos escolher para nos realizarmos como pessoas humanas.
21.05.09
Muitos cristãos no dia-a-dia vivem quase como se Deus não exista e a incidência na sua vida pessoal, familiar e social é quase nula. Deus tornou-se uma espécie de S.O.S da vida, a quem se recorre apenas nos momentos de desgraça ou infortúnio da vida ou então Alguém a quem se busca superficialmente para manter festas familiares, como baptizados, casamentos, comunhões, entre outras. Mas na grande parte do tempo da vida é esquecido, quando deveria configurar os nossos valores, a nossa forma de estar na vida, os nossos critérios, as nossas opções. Foi este o compromisso que se fez no dia do baptismo, tanto o baptizado como a família. Nos últimos anos deu-se uma rendição ao “Big Bang” económico, científico e tecnológico que se deu em algumas partes do mundo, entre elas a Europa, que fez com que o homem actual ganhasse a sensação de uma segurança exagerada de si mesmo, e pior do que isso, que se basta a si mesmo, pensando que está rodeado de todos os meios para se realizar e ser feliz e a esperar sempre mais do mesmo, considerando-se salvador de si mesmo. Mas já é notório o cansaço e o mal-estar que se construiu e não faltam exemplos de uma grande insatisfação que mora no interior das pessoas, que os criativos profissionais vão tentando calar com invenções e analgésicos de última hora. A instabilidade, a competitividade, a escravidão, a violência, e, por vezes, até, a desumanidade a que o mundo moderno sujeitou as pessoas, outra coisa não fez que lançar um grande vazio e causar uma grande falta de alegria de viver e um sem sentido da vida, por falta de transcendência. Não estará na hora de reinventarmos a vida?
21.05.09
21.05.09
Um cristão deve votar em conformidade com os valores e princípios em que acredita. A fé não é um capote que se veste só para ir à missa ou participar noutros sacramentos ou actos da Igreja e na Igreja e que depois se coloca no cabide. É um conjunto de valores e princípios que devem inspirar a forma de estar na vida e todos os actos e decisões de quem a professa. Não tem sentido andar a dizer e a professar uma coisa e depois fazer tudo ao contrário disso ou contra isso. É uma incoerência. Por isso, a todo o cristão exige-se o exercício de analisar o perfil dos candidatos e os seus programas eleitorais e ter o cuidado de os aprovar ou reprovar com o seu voto, em conformidade com os critérios cristãos, que a CEP (Conferência Episcopal Portuguesa) enumera: promoção dos Direitos Humanos; defesa e protecção da instituição familiar, fundada na complementaridade homem mulher; respeito incondicional pela vida humana em todas as suas etapas e a protecção dos mais débeis; procura de solução para as situações sociais mais graves: direito ao trabalho, protecção dos desempregados, futuro dos jovens, igualdade de direitos e melhor acesso aos mesmos por parte das zonas mais depauperadas do interior, segurança das pessoas e bens, situação dos imigrantes e das minorias; combate à corrupção, ao inquinamento de pessoas e ambientes, por via de alguma comunicação social; atenção às carências no campo da saúde e ao exercício da justiça; respeito pelo princípio da subsidiariedade e apreço pela iniciativa pessoal e privada e pelo trabalho das instituições emanadas da sociedade civil, nomeadamente quando actuam no campo da educação e da solidariedade. A CEP é clara: «O eleitor cristão não pode trair a sua consciência no acto de votar. Os valores morais radicados na fé não podem separar-se da vida familiar, social e política, mas devem encarnar-se em todas as dimensões da vida humana. As opções políticas dos católicos devem ser tomadas de harmonia com os valores do Evangelho, sendo coerentes com a sua fé vivida na comunidade da Igreja, tanto quando elegem como quando são eleitos». Quantas vezes não se mete a fé no bolso para se ceder ao amiguismo, aos interesses, ambições e conveniências pessoais ou de grupos ou ao imediato da vida?
21.05.09
Os agentes e instituições políticas devem promover uma credibilização do sistema político e dos candidatos. A CEP (Conferência Episcopal Portuguesa) é clara: «Os responsáveis políticos têm o dever de formular programas eleitorais realistas e exequíveis, que motivem os eleitores na escolha das políticas propostas e dos candidatos que apresentam. Este dever exige dos mesmos responsáveis a obrigação de visar o bem comum e o interesse de todos, como finalidade da acção política, propondo aos eleitores candidatos capazes de realizar a sua missão com competência, cultura e vivência cívica, fidelidade e honestidade, sempre mais orientados pelo interesse nacional, que pelo partidário ou pessoal. Ser apresentado como candidato não é uma promoção ou a paga de um favor, mas um serviço que se pede aos mais capazes». O povo, e com razão, já está farto de muito teatro mal ensaiado, de muita pantominice e desonestidade, de muitos ilusionismos e malabarismos. Já é tempo de se acabar com o paleio das promessas e de se falar a sério e com transparência às pessoas sobre a verdadeira realidade dos problemas do país e apontar soluções que podem, de verdade, ser exequíveis e que são sólidas a médio e longo prazo, acima dos interesses partidários ou pessoais.
21.05.09
Todos devem exercer o seu direito e o seu dever de votar. É um claro sinal de maturidade cívica. Ser um cidadão responsável implica votar. Desde há uns anos para cá que se vai ouvindo a alguns cidadãos, talvez desiludidos com o rumo dos acontecimentos, que deixaram de votar. Nada o justifica. Como todos os sistemas, a democracia também não é perfeita. E só há uma forma de ir corrigindo as suas falhas e limitações: participar no debate público e votar. Passar a vida a criticar tudo e todos e, na hora de consubstanciarmos as nossas criticas ou de podermos influenciar uma mudança de rumo, colocarmo-nos de fora é incorrecto e inadmissível e faz-nos perder toda a autoridade. Por isso, todo o cidadão deve votar. Possivelmente, se vivêssemos em regime de falta de liberdade de voto, andaríamos todos entesados e crispados a organizar mais um cortejo de tanques para adquirimos um direito que nos era sonegado (e com que esforço foi adquirido poder exercê-lo livremente). Temo-lo, não queremos saber…
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