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minhas notas

28.06.16

Partilho aqui convosco uma entrevista que o padre jesuíta Vasco Pinto de Magalhães (VPM) concedeu à rádio Renascença. Em tempos acompanhou jovens universitários, jovens candidatos ao sacerdócio e, ultimamente, dedica-se a acompanhar casais jovens e casais com filhos pequenos. Muito do que afirma vem de encontro à leitura e à perceção que tenho da realidade humana e social atual.

Começa por afirmar que hoje as pessoas «ajuízam sem refletir – têm opiniões! A cultura hoje é opinativa, toda a gente acha e não quer que ninguém a contradiga, porque a sua opinião é que vale, mas é tudo muito emotivo. Um emotivismo muito primário. A educação hoje – cá e também na Europa – não é crítica, é muito informativa e pouco formativa.». E, de facto, atualmente, estamos no tempo dos «achadores», que têm opinião para quase tudo, mas sem grande base para sustentarem o que afirmam e para perceberem a inconsistência do que afirmam, sem objetividade e rigor, porque as opiniões partem das emoções e não da reflexão e da racionalidade. Os jovens «vivem ligados ao computador, sabem tudo e não sabem nada, mas têm toda a informação à mão e isso dá-lhes a sensação de que não precisam de pensar. Por isso, penso que uma grande crise da Europa é a ausência de pensamento crítico. E, ainda por cima, não têm tempo e têm tanta informação que não conseguem organizar, nem codificar. Estou a identificar um défice que me parece muito forte e traz também muitas consequências e mal-estar na vida porque lhes dá uma certa sensação de auto-suficiência, mas que depois é muito vazia.» Isto é claramente notório na cultura da juventude atual (e de muitos adultos): limita-se a consumir passivamente a informação e tudo o mais que lhe é proposto e sugerido, seja nos hábitos, seja nos valores, sem grande capacidade de questionar, de refletir, de rebater, de pensar diferente. Tem pouca consciência crítica, o que não pode deixar de levantar muitas dúvidas sobre a qualidade da liberdade, da independência e da autonomia que a modernidade gosta de exaltar. Há um remédio para isto, que dá algum trabalho, mas dá bons frutos: «Cura-se criando momentos em que seja possível pensar – e pensar criticamente, ajudando a olhar para a realidade. Cura-se com a meditação, com a contemplação.»

Mais tarde ou mais cedo, será inevitável constatar que a vida está mergulhada num grande vazio e que se vive sem um sentido, e, por isso, nasce uma inquietação. Mas em vez de se enfrentar isto e de se lhe tentar dar uma resposta, o que é que se faz? Arranjam-se fugas enganadoras para diante, para se iludir a vida e não se enfrentar a vida com a profundidade, a verdade e a seriedade que ela merece. Fugir da realidade e da verdade. Diz VPM: «os spas, as férias aqui, as férias acolá, todo o espetáculo, toda a sociedade de divertimento, há toda uma superocupação que é enganadora, porque vai, vai, vai até bater. E depois, há muito sofrimento que atinge os limites. A pessoa cansa-se rapidamente do trabalho, cansa-se das relações, cansa-se da família, porque precisa de mais qualquer coisa, mas, como parece que, muitas vezes, a vida não está interiorizada – está vivida na superfície, no imediatismo, na emoção – isso tem consequências complicadas. Por um lado, andamos a fugir do sofrimento, mas vamos bater nele com toda a força e sem base para o enfrentar», percebendo que «o problema de fundo é exatamente viver com um sentido da vida, com perspetivas de realização profunda e não andar a fugir dos problemas, mas ser capaz de os enfrentar e de os superar.» É preciso enfrentar a vida de frente, buscar a verdade mais profunda da vida e tentar responder ao fundamental, sem fugir: quem sou? Porque existo? Quem me deu a vida? Por quê viver? Qual o sentido do que sou e faço? Para onde vou? Que sentido dar à vida? Podemos escapar-nos ou dar respostas fáceis, mas caímos num erro: «Pintamos as coisas bem pintadinhas, parece, mas depois há vazios muito angustiantes. Não é uma coisa tratável, é vazio interior, é falta de sentido, é a sensação de não ser amado.»

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