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minhas notas

08.09.11

 

Entre os dias 16 e 21 de Agosto, decorreu a Jornada Mundial da Juventude em Madrid, na sua 26ª edição, com o objectivo de «partilhar com todo o mundo a esperança de muitos jovens que querem comprometer-se com Jesus Cristo e com os outros». A próxima será na bela cidade de Rio de Janeiro, em 2013. Cerca de milhão e meio de jovens afluiu à capital espanhola, o que confirma, mais uma vez, sem tónico de pretensiosismo, que a Igreja Católica ainda tem uma grande capacidade de mobilização e merece crédito de uma boa parte da sociedade. Recorde-se que a Jornada foi criada pelo falecido João Paulo II, após o sucesso inesperado e surpreendente do Jubileu Internacional da Juventude, em Roma, no ano de 1984.

Pessoalmente, não sou adepto deste tipo de eventos. Em multidão não se reflecte e interioriza e o crescimento na fé é muito vago. As motivações que levam à participação, sem generalizar, muitas vezes, são fúteis: ir passear um pouco, viver uma semana diferente, experimentar algo de novo, juntar mais um evento à lista dos muitos a que já se foi, divertir-se um pouco. Como D. José Policarpo alertou, corre-se muito o risco de se participar porque é engraçado, sem trazer algo de substancial à vida. A força da Igreja não passa por este tipo de eventos, mas sim pelo regresso às origens: pequenos grupos evangelizados e profundamente empenhados na Igreja, que sejam foco de evangelização e de testemunho, ponte entre a Igreja e a sociedade. É em pequenos grupos que se pode fazer uma verdadeira formação e integração e amadurecer o compromisso. O mar vive muito dos rios. Seja como for, alguma coisa ficará, desde a partilha, o diálogo e encontro de culturas, troca de experiências, estreitamento de laços e de amizades, consciencialização das necessidades e desafios que se colocam à Igreja.

As celebrações com Bento XVI foram os momentos altos da Jornada, não perdendo o Papa a oportunidade para relembrar a doutrina da Igreja à juventude ali presente, com a clarividência habitual, doutrina que vale a pena recuperar. Começou por lembrar no avião que a economia deve estar ao serviço do homem e não ao contrário. É tempo de se moderar a avidez do lucro a qualquer preço. A economia tem que ter ética, sob pena de contribuir para a desumanização da humanidade. Alertou para os efeitos nefastos do individualismo, do hedonismo, do relativismo e do consumismo, da mediocridade e da superficialidade reinantes, que têm contribuído para o desrespeito e empobrecimento da dignidade humana. Criticou a visão utilitarista e pragmática do ensino, só com o fim de preparar técnicos para o mercado de trabalho. O ensino deve estar ao serviço do gosto pelo saber e da procura da verdade da pessoa humana. Chamou a atenção para o problema de uma ciência sem limites, que julga que pode fazer tudo o que lhe apetece, colocando o ser humano ao serviço das suas experiências diabólicas. Na terra ninguém é «deus», com direito a julgar quem deve ou não deve viver (clara alusão aos atropelos à vida). Reafirmou o valor do celibato aos candidatos ao sacerdócio. Especial destaque merece-me a homilia da Missa do último dia, o ponto alto da Jornada. Uma das ideias fortes é que ninguém pode seguir Cristo, prescindido da Igreja. «Seguir Jesus na fé é caminhar com Ele na comunhão da Igreja. Não se pode, sozinho, seguir Jesus. Quem cede à tentação de seguir «por conta sua» ou de viver a fé segundo a mentalidade individualista, que predomina na sociedade, corre o risco de nunca encontrar Jesus Cristo, ou de acabar seguindo uma imagem falsa d’Ele». A afirmação não podia ser mais clara.

 

Aqui há uns anos, gritou-se bem alto, em alguns ambientes sociais, «Cristo sim, Igreja não». Possivelmente, queria-se manifestar algum descontentamento com a Igreja, que até pode ser legítimo. Para muitos cristãos ou candidatos a sê-lo, a Igreja, enquanto instituição revestida de autoridade, prenhe de ritos, regras e leis, desvirtua o dinamismo do Evangelho e apaga a figura de Cristo, com a sua idealidade e o seu sonho, com a sua fantasia e o seu romantismo, tornando-se demasiado solene e teológico. A Igreja corta a liberdade e a criatividade e cria fixidez, dogmatismo, monolitismo, ritualismo, rotina, uniformidade, escravidão, obediência, deveres, compromisso. Mas não haja mal-entendidos: não se pode separar Jesus Cristo da Igreja e a Igreja de Cristo. As duas realidades não são antagónicas, não se excluem, não se podem separar ou dividir. Foi vontade de Jesus Cristo criar a Igreja, sob o pastoreio de Pedro, para continuar a sua missão e perpetuar a sua presença no mundo, até ao fim dos tempos. Lá no fundo, aquele grito foi a forma de se dizer que se queria viver a fé cristã de forma romanceada, sem incarnação e sem cruz, olhando muito a figura de Cristo como admirador, pelos valores que defendeu e pela conduta moral e espiritual excepcional que imprimiu à sua vida, ficando cada um com a liberdade de o usar e moldar conforme as suas conveniências, sem se dispor a abraçar as suas exigências, ficando-se com a liberdade de o admirar, mas não de o seguir, pondo de parte o seu convite à conversão, o seu chamamento ao Reino de Deus e o seu apelo à comunhão e à unidade. Jesus Cristo ficaria assim bem no clube de Che Guevara, Gandhi, Luther King, entre outros, que inspiram, mas não comprometem.

 

Mais uma vez o Papa Bento XVI é claro: não se pode querer amar e seguir Cristo e odiar ou desprezar a Igreja. «A Igreja não é uma simples instituição humana, como outra qualquer, mas está intimamente unida a Deus. O próprio Cristo Se refere a ela como a «sua» Igreja. Não se pode separar Cristo da Igreja, tal como não se pode separar a cabeça do corpo. A Igreja não vive de si mesma, mas do Senhor. Ele está presente no meio dela e dá-lhe vida, alimento e fortaleza».  

 

Cristo está na Igreja, que, antes de mais, é sua. É o seu corpo. Não se encontra Cristo fora da Igreja. Fora da Igreja existem imagens simpáticas de Cristo, mas não se encontra o verdadeiro Cristo. Quem quer ser cristão, tem que se inserir na Igreja e aprender a crer e a caminhar com os outros que acreditam em Cristo, a quem Ele se revela e dá. «Ter fé é apoiar-se na fé dos teus irmãos, e fazer com que a tua fé sirva também de apoio para a fé de outros. Peço-vos, queridos amigos, que ameis a Igreja, que vos gerou na fé, que vos ajudou a conhecer melhor Cristo, que vos fez descobrir a beleza do Seu amor». Desiluda-se quem pensa que pode ser cristão sem a comunhão com a Igreja ou quem pensa que pode fazer uma caminhada de fé individualista.  

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