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minhas notas

07.11.09

1.Já aqui explanei várias vezes a minha preocupação com a chamada «cultura da noite», sendo as maiores vítimas os jovens. É inexplicável como da parte das famílias e agentes sociais há uma total indiferença ou apatia face a situações que deveriam merecer uma rápida actuação e, sobretudo, uma eficaz correcção. Na revista «Única» do Jornal Expresso de 25 de Setembro de 2009, a jornalista Ana Soromenho escreveu um artigo sobre as denominadas «drogas recreativas», que são fortemente consumidas pelos frequentadores da noite, na sua maioria juventude. As coisas acontecem mais ou menos assim: monta-se uma tenda no meio de uma serra ou num bairro deserto, constrói-se um cenário com muita luz e som, convoca-se um DJ, instalam-se bares ou balcões para combater a desidratação (!), pelo meio vão-se distribuindo drogas para que se retire o máximo proveito do momento, causando estados de euforia, bem-estar, energia, relaxe, desinibição, prazer intenso. As drogas que estão na moda são: ecstasy, LSD, Speed, Ketamina e cocaína, entre outras. Há uma nova forma de diversão, que está a ganhar cada vez mais adeptos: o sextasy. Grupos de jovens entre os 15 e os 30 anos misturam ecstasy com viagra e realizam concursos durante a noite, a fim de apurarem quem tem melhor performance sexual. Pela manhã, obtidas horas indescritíveis de prazer e «curtição na boa», levitam nos carros e, após algum sono reparador, penosamente dirigem-se para casa para retemperar forças, outra noite se levanta, não demora muito. Desculpem-me, mas isto é arrepiante e inquietante. Como é que estamos a deixar que a juventude esteja a descer a este nível? Estes jovens não têm pais? É esta a diversão que o mundo de hoje tem a apresentar aos jovens? Se não é, não fazemos nada? Pelos consultórios adentro de vários especialistas da saúde já começam a chegar jovens com graves distúrbios psicológicos e psíquicos, problemas sexuais, nomeadamente impotência sexual, entre outros. Daqui a uns anos podemos correr o risco de termos gerações gravemente doentes e alienadas da responsabilidade para a qual deviam estar capacitadas. Como é aflitivo ver a juventude a desperdiçar tempo e saúde numa diversão tão descabida e insana, em nome do propalado gozo da vida que o mundo contemporâneo decretou. Para mim, como já o afirmei várias vezes, tudo isto esconde algo mais profundo: há um grande vazio na vida dos jovens. A proposta de vida que o mundo hoje lhes propõe não lhes dá prazer e felicidade. Durante o dia, não há um ideal que oriente e dê sentido à vida, não há perspectivas de vida, não há uma meta e um horizonte que estimule e preencha a vida, não há uma causa pela qual valha a pena lutar, um objectivo sublime pelo qual se justifique desperdiçar energia, acrescentando-se a isto um mundo laboral deficitário, agressivo e competitivo, mau ambiente familiar, isolamento, desorientação moral e espiritual. O que resta depois? Buscar na noite o que o dia não dá. Afogar em copos e drogas uma vida sem sentido, infeliz, angustiada e sofregamente vivida. Já não é tempo de actuar?

2. Na mesma senda, a mesma revista, pela mão de Mafalda Ganhão, publicava um artigo merecedor de alguma reflexão: a venda de antidepressivos continua a crescer, a depressão está anunciada como a próxima grande epidemia. Um grande número de pessoas já não consegue passar sem psicofármacos lícitos. Ser feliz e viver bem, com vontade e alegria de viver, está, afinal, para muita gente, num minúsculo comprimido que tem quer ser ingerido todos os dias. Onde está a tão querida felicidade e o bem-estar e realização que a modernidade e o mundo contemporâneo juravam estar a construir? Não ignoro que a depressão é uma doença complexa, e muito menos ignoro o sofrimento em que muitas pessoas vivem por causa dela. Pode, nos próximos tempos, muito bem ser a nossa próxima amiga, ou melhor, inimiga. Alguns especialistas apontam que uma das causas da depressão é o hedonismo contemporâneo, que «elevou o desprazer à categoria de coisa anormal ou mesmo de patologia». É um facto: hoje em dia, damo-nos muito mal com as sensações más, com o que é desagradável, como se a vida só tivesse que ser um desfile de coisas positivas e de bons momentos. E como a vida não é assim, entramos em depressão. Outras razões podem ser apontadas: a crise, o desemprego, a alteração dos estilos de vida, os objectivos demasiado elevados a que nos entregamos, o perfeccionismo, as exigências da competitividade, a incapacidade de acompanhar e se integrar na orgânica e andamento da sociedade actual, entre outras. Para além do que já apontei atrás, relativamente aos jovens, sinceramente, acho que a depressão é sintoma de uma outra realidade: o alheamento da espiritualidade e da vida interior. Andamos atrás do que não satisfaz e como pessoas estamos desestruturados. A sociedade actual precipitou-se ao proclamar a auto-suficiência do homem em relação a Deus. Por dentro estamos ocos. A vivência interior de muitas pessoas é pobre. Não temos razões para muitas das acções que realizamos e quando analisamos a fundo as que achamos que as justificam, facilmente descobrimos que são insuficientes e até mesmo fúteis. A vida de muita gente, hoje em dia, está mergulhada no desencanto e não passa de um barco que anda no mar, mas não sabe para onde vai e qual o ritmo que deve imprimir. Sem uma vida interior minimamente bem estruturada e alguma vivência espiritual, chamemos-lhe a isto, se quisermos, uma fé madura e esclarecida, relação e comunhão com uma Plenitude que nos enche por dentro e nos planifica a vida, seremos sempre uma casa sem alicerces e seres mergulhados no mar da insatisfação que nenhum xanax ou prozac poderá eliminar.

3. Chegou ao fim um mês de campanhas. O povo deu o seu veredicto e escolheu quem quer ver como primeiro-ministro e presidentes de câmara e de junta. É bom que se imponha, a partir de agora, a maturidade democrática. Quem vai governar e presidir, deve fazê-lo com competência e dedicação, sem excluir ninguém e não diferenciar ninguém. Quem vai ser oposição, deve fazê-lo com elevação e responsabilidade, com ideias e projectos e sempre com espírito construtivo, colocando-se o bem de todos acima de tudo. Independentemente das ideias e convicções de cada um, todos os cidadãos devem saber construir uma sã convivência entre todos e não apenas jungir com os que partilham as mesmas ideias e convicções. Isto é que é a democracia. O bem comum e o bem-estar de todos devem estar no centro das preocupações de todos. Seria bom que algumas cenas tristes não se repetissem, que em nada engrandecem quem as representa: dizer mal das pessoas simplesmente porque são de outro partido, perseguir de várias formas quem pensa diferente, chantagear as pessoas com os empregos, como se houvesse donos dos empregos, favorecer pessoas porque são do mesmo partido, presentear interesses particulares ou corporativos e associativos em detrimento do interesse geral, cultivar aspereza e ódio por mal-entendidos do passado, alimentar ímpetos de conspiração. Nada disto é democracia.

 

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