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minhas notas

09.10.09

É um dos temas mais queridos, e que suscita mais intriga, nas conversas entre cristãos e quase sempre mal compreendido e interpretado, considerando muitos que o celibato já não tem grande valor e razão de ser. Não há cristão leigo que não alinhe pelo mesmo diapasão: “os padres deviam-se casar, ter uma família como os outros”. “Não faltariam vocações e mais padres”, dizem outros. Não é bem assim, caros amigos. Tenho pena em dizê-lo, mas entre os nossos cristãos e na sociedade em geral há uma grande ignorância e muita superficialidade à volta deste tema. Além do mais, vivemos num mundo sexualista e erótico, que todos os dias nos vende a ideia de que quem não tem sexo ou uma vida sexual activa é um infeliz, uma pessoa não realizada, um frustrado a quem a vida passa ao lado, o que é um exagero, como se não houvesse mais vida para além da sexualidade e como se esta se reduzisse à genitalidade. Está aqui a fonte de infelicidade para muita gente, hoje em dia. Como dizia o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, no simpósio em Fátima: “Na mentalidade contemporânea, não é tanto o celibato que choca, mas a continência no celibato”. O amor não se pode viver de várias formas? Onde é que está escrito que toda a gente tem que se casar? Não sou a pessoa mais douta neste campo, nem de longe nem de perto, mas vou tentar ajudar a compreender o tema (opção) em alguns pontos, dando-lhe uma tonalidade teológica e descomplexada. Seria fácil ser polémico, dizendo que sou contra o celibato, uma norma já com alguns séculos dentro do catolicismo. Mas não sou contra, sou a favor. Ter homens totalmente consagrados a Deus e à Igreja é uma riqueza de que a Igreja não pode prescindir. Ser livre? É um debate que a Igreja deverá fazer um dia, com honestidade.

1.A razão de ser do celibato é Cristo. Como escreve o Papa Paulo VI, na Encíclica Sacerdotalis Caelibatus, «a verdadeira e profunda razão do celibato é a escolha duma relação pessoal mais íntima e completa com o mistério de Cristo e da Igreja, em prol da humanidade inteira». O celibatário, como é o caso dos padres, é alguém que fez a opção de se entregar exclusivamente e totalmente a uma pessoa, neste caso Jesus Cristo, e a viver indivisamente essa entrega ao longo de toda a sua vida, entrega essa que se estende a toda a igreja e a toda a humanidade. Este é o ponto essencial.

2.O celibato é um carisma e uma vocação. Quem é padre, no momento em que optou por sê-lo, optou também pelo celibato, entendido como uma graça de Deus, para se viver exclusivamente para Ele. Logo, o celibato não é uma imposição ou uma obrigação, como é visto por muitos (…coitado do padre, vai ter que viver com esta imposição toda a vida), é uma opção livremente assumida. A igreja chama a ser padre quem opta pelo celibato, como carisma dado por Deus para o servir. Quem não opta pelo celibato ou o descobre como dom de Deus não pode ser padre.

3.O padre não renuncia à sua sexualidade e muito menos a reprime (e como a palavra sexualidade está empobrecida e é tão mal compreendida nos dias de hoje). Renuncia ao exercício da genitalidade, que é outra coisa. Mas então o padre não é um homem como os outros, com atracção sexual e impulsos sexuais? É óbvio que é e não está imune a ter as suas fraquezas neste campo. Como todo o homem, tem as suas tensões sexuais, que procurará dominar e integrar, sem recalcar, nos dinamismos do seu celibato, com alguma ascese e autodomínio, mas sobretudo no aprofundamento de um amor oblativo a Cristo, para quem vive exclusivamente, e à igreja.

4.Vemos assim que o padre não é um “solteirão burguês”, assexuado e que não gosta de mulheres, como me diziam aqui há uns anos uns cristãos piedosos (esta está boa!). Confesso que demorei alguns segundos a piscar os olhos, tal era a estupefacção. Que conceito tão descabido e infeliz do celibato, que nem comentários merece.   

5.O celibato não existe para o padre ter mais disponibilidade e liberdade para servir os outros. Isso são consequências do celibato e não a sua razão última, como defendem alguns. Não faltam casais com grande disponibilidade dentro da igreja.

6.Porque é que os padres não se casam? Porque livremente acolheram o dom do celibato na sua vida e entregaram-se totalmente a Cristo, com quem procurarão viver em amor total, e em nome dele estar inteiramente ao serviço da igreja e do Reino de Deus. É certo que não é uma decisão fácil e implica muita maturação. Há uma série de coisas de que se tem de abdicar com algum sofrimento, nomeadamente o “sonho do matrimónio”, entre outros. Mas a vida ensina-nos que temos que perder numas coisas para se ganhar noutras. Um homem descobriu um tesouro num campo e vendeu tudo o que tinha para comprar aquele campo e assim ficar com o tesouro…

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