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minhas notas

05.10.15

Entre os dias 31 de Agosto e 3 de Setembro, decorreu, em Fátima, o Simpósio do Clero, que teve como tema o padre, irmão e pastor. Estiveram presentes padres de todas as dioceses e alguns bispos. Saliente-se que a nossa Diocese de Vila Real foi das mais bem representadas, tendo-se em conta o número de padres. Durantes três dias e meio, foram servidas boas conferências de estudiosos e pensadores da Igreja, servidos painéis de debate com figuras da Igreja e do saber e da cultura portuguesa, bons momentos de convívio, celebração e oração.

A figura que esteve mais em destaque foi o Beato Bartolomeu dos Mártires, proeminente arcebispo de Braga, de quem no ano passado celebrámos os 500 anos do seu nascimento, e de quem se espera que avance o processo de canonização. Foi, de facto, um pastor exemplar, terno e jovial, mas ao mesmo tempo exigente e rigoroso, que viveu uma vida sóbria, de grande fidelidade ao Evangelho e de grande amor aos pobres e desafortunados do mundo. Serviu uma diocese que se estendia até Bragança, que tinha cerca de 1400 paróquias. Na Igreja do Castelo de Montalegre, como sabemos, está uma lápide que recorda a sua passagem pelas terras do Barroso.

Destaco algumas boas intervenções e tiradas que se foram recolhendo ao longo do Simpósio, que podem servir para a reflexão das comunidades cristãs. O jesuíta Carlos Carneiro, a quem coube refletir sobre a missão e a identidade do padre segundo o Vaticano II, sublinhou que o grande inimigo da Igreja, com quem, aliás, até tem sabido conviver, não são os ateus, os agnósticos, os tradicionais detratores e opositores da religião, as forças e os poderes da sociedade que procuram hostilizar e até eliminar as crenças, os credos e a presença das religiões nas instituições e nos ambientes sociais. O grande inimigo da Igreja é quando a Igreja deixa de fazer uma leitura espiritual da realidade, preferindo optar pela condenação ou pelo lamento, refugiando-se no comodismo do passado, com os seus esquemas e mentalidades, não se dando conta do chamamento e dos sinais e desafios da presença de Deus na realidade que tem de enfrentar no presente.

O comentador do Governo Sombra da TSF e crítico de cinema e de literatura, Pedro Mexia, salientou que a Igreja não pode cair na tentação de adocicar o seu discurso e as suas liturgias para atrair fiéis a qualquer preço, como, por exemplo, as televisões fazem com os seus programas para terem audiência. A Igreja tem de anunciar o Evangelho, com toda a sua verdade, Evangelho que nem sempre é agradável para as multidões, e ter preocupação pelo sublime e pela beleza. A Igreja desempenha o papel importante de ser consciência crítica da vida e da sociedade e é importante que nunca deixe de o fazer. A escritora Lídia Jorge pediu mais presença de bons textos dos escritores e da poesia no discurso e nas homilias da Igreja. Talvez a Igreja seja demasiado prosaica. O físico e investigador, Henrique Leitão, Prémio Pessoa em 2014, apresentou uma série de grandes cientistas que nasceram do mundo católico, estimulados pela convicção católica de que a realidade é inteligível, o que só comprova que a Igreja promoveu e viu na ciência um bem, apesar de episódios menos dignificantes neste campo e de algum confronto duro que se gerou, por vezes, entre Igreja e ciência.

O Professor Adriano Moreira, que não deixa de surpreender pela frescura dos seus 93 anos de idade, douto observador da política e da economia nacional e internacional, destacou que o cenário mundial é de guerra por todo o lado, porque se impôs a ditadura do mercado e dos interesses sobre os valores, de forma que é urgente recuperar o poder da palavra sobre a palavra do poder e restaurar a centralidade dos valores face ao mercado e aos interesses, no respeito inquestionável pelo ser humano e sua dignidade.

No último dia, o Provincial dos Jesuítas em Portugal, o padre José Frazão Correia, referiu que o entusiasmo não é uma estratégia pastoral e que não faz muito sentido recorrer ao entusiasmo postiço para se anunciar o Evangelho ou para se ser sedutor na Igreja e para fora da Igreja. Anda por aí a moda, ou se quiserem, a convicção parola, de que aquilo que não é alegre e não tem graça não cativa e não seduz, o que leva a que grupos e pastores na Igreja se mascarem de uma alegria artificial e fingida para cativar a todo o custo. Para além de colocar pressão sobre quem escolhe este critério (quem consegue ser alegre e engraçado a toda a hora?), acaba por mais tarde ou mais cedo não dar frutos porque não está revestido de autenticidade. Um cristão deve testemunhar com naturalidade a sua pertença a Cristo e a sua condição de salvo em Cristo, que permanentemente alegra e dá sentido à sua vida. Se o fizer com verdade e autenticidade, não deixará de contagiar os outros.

Foi uma bela mensagem para concluirmos mais um Simpósio do Clero.

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