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minhas notas

05.02.14

Nos últimos tempos, perdemos duas grandes figuras globais: Nélson Mandela e Eusébio da Silva Ferreira. Apesar de terem morrido muito próximos um do outro, têm vidas e dimensões muito diferentes. Nélson Mandela foi um «herói», na verdadeira acepção da palavra. Com grande sacrifício da sua vida, lutou contra um regime injusto e segregador, que jamais se pudesse imaginar em pleno século XX. Sem armas na mão, com uma humildade e uma magnanimidade assombrosas, promoveu a liberdade, a igualdade e a justiça na África do Sul. Tornou-se o primeiro presidente da nova primavera que despontou no país mais rico de África, apontando sempre caminhos de perdão e de reconciliação. Talvez percebendo as ciladas do poder e com uma consciência límpida dos seus limites, cedeu o poder e pediu que alguém mais capaz o ocupasse e continuasse pela senda dos seus princípios e da sua obra. Arrastou atrás de si a história de um povo. Toda uma vida intensa, sem exibicionismo e busca de proveito próprio, pautada única e exclusivamente pelo amor ao seu país e aos outros e pela defesa dos valores da liberdade e da justiça.

 Eusébio da Silva Ferreira jogou noutro campo. Também de origem africana e portador de uma humildade desarmante e genuína e com uma conduta admirável, colocou o seu talento ímpar ao serviço do futebol, do seu clube e do país que o acolheu e adotou. Portador duma bravura e duma avidez incomensurável pelo golo, pelo seu festejo e pela vitória, sempre dentro do mais puro desportivismo, proporcionou momentos de rara beleza ao futebol  e momentos de grande alegria e felicidade aos seus adeptos. Deu nome ao Benfica a nível internacional e contribuiu  para a afirmação de Portugal no mundo, pelo menos a nível desportivo. Um caminho também percorrido com alguns sacrifícios, mas sempre ultrapassados pelo amor ao clube, ao país e à festa do futebol.

 Um dos velhos esteios da defesa do Benfica, Mozer, afirmou que Eusébio era outro Mandela. É um exagero. Mandela teve um percurso e uma densidade que não se pode comparar com Eusébio. O exemplo e o contributo de Mandela para a história da humanidade são únicos e incomparáveis. Mas há virtudes e valores que os unem e que nos devem inspirar: a humildade, capacidade de sacrifício, persistência, não-violência, dedicação e amor aos outros, humanidade, conduta moral exemplar, cidadania ativa. Infelizmente, valores que não estão muito na moda. São muitos os que elogiam os heróis, mas são muito poucos os que os seguem. Conforme ia escutando os muitos encómios que vinham de todos os cantos do mundo, não deixava de ficar espantado. Elogiou-se aquilo que a maioria da sociedade atual despreza. Sabe que o deve viver, mas não vive. Por isso, boa parte dos elogios, que se ouviram, soaram a frases feitas da praxe e a cantilenas sem alma, com mendacidade quanto baste.

A sociedade atual valoriza a soberba e a vaidade, a capacidade de se afirmar e impor diante dos outros, ser o melhor a todo o custo, com total indiferença pelos princípios e valores, preocupação exclusiva pelo bem-estar individual, egocentrismo, insensibilidade pelos outros, porque o sucesso e o êxito imediatos da vida não podem esperar, vida moral ao sabor dos interesses e desejos momentâneos, fuga ao esforço, ao compromisso e ao sacrifico, moleza e abandono diante das dificuldades, alheamento da cidadania ativa e responsável. Não foram estes os valores que os heróis escolheram. Mais do que admiradores, eles querem é continuadores. Dêmos-lhes a honra de imitarmos o seu exemplo de nobreza e elevação humanas e de prosseguirmos a sua obra, num tempo em que o torpor, a mediania e a mediocridade grassam em demasia.

2. O Presidente francês, François Hollande, foi descoberto num caso de infidelidade para com a sua atual companheira. Os franceses estão habituados a não dar importância a estas escapadelas presidenciais. Separam vida privada e vida pública. Para eles, um presidente não passa de um tecnocrata escolhido para governar o país, que de dia pode mostrar e dizer uma coisa e à noite pode fazer e dizer o seu contrário. De dia, mostrar uma mulher, como convém para o regime, à noite, dar azo aos seus devaneios nos braços de outra. Viva a ética republicana! Brincar com a palavra e os sentimentos de uma mulher não interessa à maioria dos franceses. O que espanta nestes casos é que, noutros tempos, sem estas cabriolas da moral contemporânea, o povo exigia aos políticos exemplo moral e ético. Um governante devia ser inspiração e um símbolo, em todos os sentidos, para o seu povo, com uma conduta política, humana e moral irrepreensível e muitos governantes sentiam este apelo. Pelos vistos, isto já pouco importa, mas devia importar.

3. A feira do fumeiro deste ano decorreu dentro dos moldes expectáveis. É o grande evento que se realiza anualmente em Barroso. Mais do que feira, é uma festa do povo. É belo ver a vivacidade, o encontro e a partilha que ela oferece. No dia da inauguração, destaco o bom discurso do Senhor Presidente da Câmara, Senhor Orlando Alves. Sem qualquer complexo partidário, fez críticas assertivas à conduta dos governantes e do país nas últimas décadas e desabafou a amargura que qualquer barrosão ou habitante do interior não poderá deixar de sentir. Parabéns a todos os intervenientes da feira do fumeiro, sobretudo aos vendedores que não se deixam vencer pela timidez rústica e labutam para mostrar ao mundo o que de melhor, em gastronomia, o Barroso tem.

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