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minhas notas

24.03.15

A missa é o sacramento mais importante da vida da Igreja, sem esquecermos, claro, a importância de todos os outros. Ela é o centro. Todos os outros estão ordenados para ela. Não foi por acaso que o Concílio Vaticano II a definiu como «a fonte e o cume da vida da Igreja», ou seja, é a partir dela e para chegar a ela que vive a Igreja. Na celebração da missa, Cristo atualiza a sua vida e obra a favor da humanidade e une a si a Igreja, o conjunto dos batizados, que, assim, se torna em Corpo de Cristo e Povo de Deus, e com Cristo e em Cristo, toda a Igreja dá graças a Deus, oferece a sua vida a Deus e suplica pelas necessidades da Igreja e do mundo. Com a simbólica da mesa como pano de fundo, a missa realiza a comunhão dos crentes com Deus e dos crentes entre si. Toda e qualquer missa que se celebre deve ter única e exclusivamente este fim. E não se deve querer outra coisa senão esta: que a missa seja mesmo missa e só missa e mais nada.

Não faltam por aí opiniões de muitos cristãos e não cristãos sobre como deveria ser celebrada a missa. Há sugestões e opiniões para todos os gostos e feitios. A verdade é que poucos captam o essencial da missa: ela é celebração e acolhimento da presença de Cristo ressuscitado, que nos dirige a sua Palavra e nos dá o Pão do seu Corpo, para que a Igreja seja mesmo Igreja e se realize a comunhão entre todos. A primeira motivação para se ir à missa é a vontade de se ir escutar uma palavra que salva e adorar uma presença que renova e transforma, em espírito de ação de graças. O mais importante não é aquilo que levamos para a missa, embora também o seja, ou que forma que lhe vamos dar. Ela já está feita e bem feita. O mais importante é a disposição e a vontade que levamos para ouvir, acolher, saborear e adorar aquilo que Cristo tem para nos dar. Quem faz a missa, primeiro que tudo, é Cristo e não nós. Nós somos os felizes convidados. São poucos os cristãos que aqui chegam.

Infelizmente, porque é considerada a celebração e o momento mais importante da vida da Igreja e porque nem sempre é devidamente entendida, também é o sacramento mais instrumentalizado, manipulado e banalizado na vida da Igreja e na vida social, dado que urge refletir. Está instalada uma cultura de se rezar missa por tudo e por nada e para tudo e para nada, sem se acautelar devidamente a séria razão de ser da sua celebração, a sua preparação, a verdade da sua vivência e o compromisso que gera em quem a celebra.

Mesmo dentro da vida da Igreja ainda há muito a fazer para se celebrar a missa com a dignidade e a solenidade que ela merece, sem nunca deixar de ser um encontro festivo. Mas festivo não quer dizer festeiro. Há muita falta de compressão e de formação sobre a missa. Vejamos alguns exemplos. Para muitos cristãos, a missa é um simples convívio. Assim sendo, o que importa são os cânticos e as «coisas engraçadas» que se vão fazer e o desempenho que se vai ter. Temos assim as missas festivaleiras. Há cristãos que dizem que vão a tal paróquia porque gostam dos cânticos. Esta nunca pode ser a principal razão de se ir à missa. Os cânticos devem estar na liturgia para ajudar a viver a liturgia, isto é, a aderir mais a Cristo e a interiorizar a sua palavra, no justo equilíbrio com o silêncio. Os cânticos não são para entreter nem para distrair agradavelmente as pessoas. Para isso temos outros momentos. Podemos correr o risco de reduzir a missa a um festival para passar o tempo e nos entretermos e passamos ao lado do essencial da missa.

Temos também as missas para crianças, que em muitas paróquias se celebram. Para crianças não quer dizer missas infantis.Com uma linguagem mais simples e acessível, têm como objetivo ajudar as crianças a descobrir a beleza da missa e a educá-las na sua celebração, juntamente com toda a família. O que acontece muitas vezes é que se fica muito no desempenho e na forma e não se vive o essencial da missa, reduzindo-se a missa a uma peça teatral, em que os adultos se tornam meros espectadores dos pequenos atores.

Durante a semana, a Igreja costuma rezar a missa pelos defuntos. Mas é bom que se lembre que ela primeiro que tudo é para os vivos. Não se vai à missa da semana simplesmente para se ser um assistente ou um espectador de uma missa em que é lembrado um familiar ou um amigo. Vai-se à missa porque é missa e se todos os dias puder participar na missa, tanto melhor. Porque a ideia que fica é que, para muitos cristãos, a missa da semana é só para fazer memória e rezar pelos mortos. A missa da semana, como qualquer outra missa, é encontro com Cristo e uma ação d’Ele sobre o mundo e a Igreja.

Depois também temos, algumas vezes, as missas folclóricas, em que a atenção recai num certo tipo de roupas ou no cumprimento de certos protocolos ou costumes, imposição de insígnias, etc. Isto acaba por ter uma relevância que deixa na sombra a missa em si. Estas coisas poderão ter o seu espaço dentro da celebração da missa, se é que têm, mas atualmente são feitas com excessos. E temos também as missas de tradição, em que celebram porque «é costume ou tradição» que assim se faça. Cumpre-se a tradição e vai-se à vida. Não é motivação válida para se celebrar a missa.

Na vida social, não há festa ou evento que não se dê ao luxo de ter no seu programa a celebração da missa, que não passa de mais um adorno, solicitada, muitas vezes, por cristãos que raramente participam na vida da Igreja e que não têm comunhão eclesial. É um abuso e uma grave banalização da missa celebrá-la só para cumprir e embelezar programas. Na missa do Domingo, de que muitos andam arredados, cabem lá todas as boas intenções, homenagens e ações de graças.

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