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minhas notas

24.05.14

A Igreja católica exultou, nos últimos dias, com a canonização de dois grandes papas do século passado: João XXIII, que convocou o Concílio Vaticano II, e João Paulo II, que conduziu a Igreja durante quase três décadas, peregrinando pelo mundo. Como se esperava, a sua elevação a santos não foi unânime. A João XXIII falta-lhe o tal milagre que as regras de aprovação da santidade exigem. O Papa Francisco não achou isso decisivo e, pelos vistos, «impôs» a canonização do Papa. Talvez não fique bem a um Papa desrespeitar as regras (ai se um qualquer outro católico o fizesse!), mas, na minha opinião, penso que fez bem. Um santo fala pela sua vida e não pelos seus milagres. Já é tempo de acabarmos com a «milagrite» dentro da Igreja. João Paulo II teve um percurso que não é consensual. Para muitos, apesar do universalismo que deu à Igreja e do ardor missionário que cultivou nas suas viagens e do seu grande contributo aturado para o fim dos regimes comunistas, no campo interno, foi conservador em demasia, persistiu no imobilismo doutrinário e teve opções e decisões que geraram perplexidade e divisão no seio da Igreja. Seja como for, são duas figuras ímpares, que ao longo da sua vida manifestaram uma coragem e uma humanidade exemplares e tiveram uma postura verdadeiramente cristã, que a Igreja honrará nos dias 11 e 22 de Outubro. Há muito que eram aclamados por um grande número de católicos em todo o mundo e vox populi, vox Dei (voz do povo, voz de Deus). Nem sempre é assim, mas aqui penso que se concretiza.

Ao longo da sua história, a Igreja tem canonizado cristãos que sobressaem com uma vida exemplar, em termos humanos, sociais e religiosos. Muitos destes cristãos canonizados fizeram parte da hierarquia da Igreja ou, se quisermos, do sacerdócio ministerial. Os leigos e os casais leigos têm ficado muito na sombra. A Igreja já se apercebeu desta grave desatenção e da sua obsessão pelos santos hierárquicos. Muitos leigos, quando procuram um exemplo inspirador, esbarram sempre com papas, bispos, padres, monges, abades. Parece que só há santidade dentro de muros e não no meio do mundo. O que é certo, para mim, é que de facto os grandes santos, muitas vezes, estão nos muitos leigos que vivem no meio da tentação do mundo, sentindo a força do seu aguilhão a toda a hora, que experimentam o mistério do mal e a sua sedução todos os dias, que vivem no meio de uma cultura heterogénea que os inspira a fazer e a optar por aquilo que é contrário à sua fé, que têm de sujar as mãos com o que de mais miserável o ser humano produz, mas que, apesar de tudo isso, vivem uma vida espiritual de qualidade, vivem uma vida de fidelidade aos valores do evangelho, com tudo o que ela implica de renúncia e de sacrifício, exibindo um testemunho e uma alegria e uma bondade que não deixa ninguém indiferente. Cristãos que geram e educam filhos, que cumprem o seu dever irrepreensivelmente todos os dias, que se dedicam a causas nobres e perdem muito do seu tempo com aqueles que pouco importam, que promovem o bem e lutam pela verdade e pela justiça. É preciso olhar mais para estes santos.

Nestes dias, em que a Igreja rejubila com o facto de alguns dos seus filhos atingirem a meta da plena comunhão com Deus e de serem grandes modelos e exemplos para todos e intercessores a favor do vale de lágrimas em que caminha o povo de Deus, como são os santos, seria bom que todo o cristão católico questionasse a sua santidade. A santidade é para todos os batizados. Não é para uma elite ou para uns quantos predestinados por Deus. Nenhum cristão católico se deve contentar com a mediocridade ou com a mediania ou resignar-se ao «sou como sou» ou «é avida», que muito serve o nosso comodismo. Temos de viver uma vida humana de excelência e de procurar uma total identificação, no pensar, no sentir e no agir, com Jesus Cristo. Há que procurar fazer tudo extraordinariamente bem, como deve ser feito, conforme é a vontade de Deus.

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