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minhas notas

26.09.16

A Jornada Mundial da Juventude, que a Igreja Católica organiza todos os anos desde 1984, tem sido sempre um sucesso. Deixará marcas indeléveis em muitos jovens que nela participam e ajudará muitos a amadurecer a fé e a se comprometerem mais com Cristo e com a Igreja. Este ano foi na Polónia, país do cativante e inesquecível João Paulo II. Os momentos e as celebrações com o Papa Francisco foram os momentos altos da jornada, onde o Papa Francisco fez passar uma mensagem de alegria e incentivo aos jovens, mas onde também apontou caminhos de exigência e de séria reflexão, questionando a cultura e os valores ou contravalores atuais em que nasce e vive a juventude. Espero que muitas famílias e jovens, e a sociedade em geral, escutem as palavras sábias do interpelante Papa Francisco.
O Papa começou por exaltar a fase da juventude, de quem a Igreja e o mundo esperam muito: «Nos meus anos de bispo, aprendi uma coisa (aprendi muitas; mas uma quero dizer-vo-la agora): não há nada mais belo do que contemplar os anseios, o empenho, a paixão e a energia com que muitos jovens abraçam a vida. Como é belo isto! É um dom do céu poder ver muitos de vós que, com as vossas questões, procurais fazer com que as coisas sejam diferentes». O que é marcante na juventude é a capacidade de sonhar, de querer construir algo de novo, de contribuir para a mudança e o melhoramento do mundo, é a rebeldia diante do mal e da injustiça, é o questionar ideias e convicções que já não têm sentido, é dar um sentido novo e mais profundo à vida, é o querer ser mais e ir sempre mais além. Será esta a «cultura» da nossa juventude atual?
O Papa apontou dois «vícios» perturbadores que, infelizmente, se entranharam na cultura e no espírito da nossa juventude atual: a aposentação juvenil e a paralisia do sofá/felicidade. Quanto ao primeiro, o Papa foi claro: «Entristece-me encontrar jovens que parecem «aposentados» antes do tempo. Isto deixa-me triste: jovens que parecem ter–se aposentado aos 23, 24, 25 anos. Isto entristece-me. Preocupa-me ver jovens que desistiram antes do jogo; que «se renderam» sem ter começado a jogar. Entristece-me ver jovens que caminham com a cara triste, como se a sua vida não tivesse valor. São jovens essencialmente chateados e chatos, que chateiam os outros, e isto deixa-me triste. É duro, e ao mesmo tempo interpela-nos, ver jovens que deixam a vida à procura da «vertigem», ou daquela sensação de se sentir vivos por vias obscuras que depois acabam por «pagar» e pagar caro». E, de facto, hoje, é triste vermos jovens «aposentados», não só aqueles que se perdem na droga, no álcool, na sexualidade lasciva e desregrada, no furto, nos negócios imundos, na ilicitude, na devassidão da noite, mas também aqueles que vivem sem um ideal, sem um projeto de vida, sem causas, sem horizontes humanizantes, entregues ao hedonismo vazio e escravizante, ao improviso, ao facilitismo e ao imediato da vida, que se deixam ir na onda, como diz o papa, «de vendedores de falsas ilusões ou vendedores de fumaça». São jovens que vivem sem viver, sem alma e sem o carisma e a força que marca a juventude. Não quero dizer que todos os jovens são assim, mas temos um bom número que escolheu ou foi empurrado pela sociedade para esta frivolidade e esta vacuidade.
Quanto ao segundo vício, disse o Papa: «Gosto de a chamar a paralisia que brota quando se confunde a FELICIDADE com um SOFÁ/KANAPA. Sim, julgar que, para ser felizes, temos necessidade de um bom sofá. Um sofá que nos ajude a estar cómodos, tranquilos, bem seguros. Um sofá – como os que existem agora, modernos, incluindo massagens para dormir – que nos garanta horas de tranquilidade para mergulharmos no mundo dos videojogos e passar horas diante do computador. Um sofá contra todo o tipo de dores e medos. Um sofá que nos faça estar fechados em casa, sem nos cansarmos nem nos preocuparmos. Provavelmente, o «sofá-felicidade é a paralisia silenciosa que mais nos pode arruinar, que mais pode arruinar a juventude. Porque pouco a pouco, sem nos darmos conta, encontramo-nos adormecidos, encontramo-nos pasmados e entontecidos. Não viemos ao mundo para «vegetar», para transcorrer comodamente os dias, para fazer da vida um sofá que nos adormeça; pelo contrário, viemos com outra finalidade, para deixar uma marca». Espero que a sociedade atual, o mais rapidamente possível, se aperceba do mal que tem feito à juventude: em nome de uma vida cómoda e de bem-estar, com todas as proteções e seguranças, em que a maioria das coisas lhe foi oferecida de mão beijada e se decretou o superior direito à diversão, a juventude foi decepada da capacidade de sofrimento e de sacrifício, de lutar por metas e objetivos, de aprender a fazer-se à vida, de servir os outros, essencial na vida, e temos um bom número de jovens imaturos, amorfos, abúlicos e impreparados para a vida e seus desafios, que não tem outro «nobre» objetivo que estar horas e horas pasmados num sofá, rodeados de tecnologia, alheios do mundo e da vida.
É fascinante trabalhar e estar com jovens e acreditamos e esperamos muito deles. Mas não estamos a proporcionar a melhor educação e a oferecer a melhor cultura para que isso aconteça. Urge repensar seriamente nesta banha da cobra que lhe vendemos ou oferecemos, porque não estamos a ajudá-los a dar o melhor se si mesmos à vida e ao mundo e não é este o sentido e não é esta a grandeza e nobreza com a vida deve ser vivida.

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