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minhas notas

21.08.15

Neste ano de 2015, celebram-se os 500 anos do nascimento de uma grande santa da Igreja Católica, S. Teresa de Ávila, também conhecida por S. Teresa de Jesus. Vale a pena lembrar o percurso da sua vida. Nasceu a 28 de Março de 1515, na barrenta cidade espanhola de Ávila, não muito longe aqui de nós. Seu pai, Afonso, inquieto e desassossegado com as aventuras e as ousadias juvenis da filha e querendo livrá-la das perniciosas influências mundanas, abrigou-a no Convento de Santa Maria de Grácia, orientado pelas monjas agostinhas, tinha ela os seus 17 anos. Passados três anos, entra no Mosteiro da Encarnação, em Ávila, onde fez votos como carmelita, com a bênção do pai. Retratando o sentimento que lhe atravessava a alma nesta fase da sua vida, sentindo-se profundamente unida a Cristo, deixou escrito: «Já me entreguei completamente, e de tal sorte estou mudada, meu amado é para mim e eu sou para o meu amado. Feriu-me com uma seta arvorada de amor, e minha alma ficou feita uma com o seu Criador. Já não quero outro amor, pois ao meu Deus me entreguei, meu amado é para mim e eu sou para o meu amado.»

 Apesar de dizer às suas monjas que o Mosteiro da Encarnação, onde esteve 27 anos, era bom, contudo, havia alguns aspetos que lhe desagradavam no estilo de vida e no ambiente, que a vão estimular a empreender uma grande reforma na ordem carmelita: individualismo, diferença de classes, ausência de clausura, falta de partilha, de comunhão e de fraternidade, trivialidade e opulência. Enfim, seria talvez um mosteiro excessivamente mundano para se viver o ideal cristão, com toda a sua verdade e exigência.

Movida pelas suas ideias e convicções contracorrente e revolucionárias para o tempo, defendendo, por exemplo, o direito das mulheres à instrução, à espiritualidade, à oração e a terem um lugar digno na Igreja, abandonou o Mosteiro da Encarnação e, com a ajuda do dinheiro de uma irmã e seu cunhado, comprou um terreno fora das muralhas de Ávila, onde construiu uma pequena casa, berço da reforma que levou a cabo na ordem, fundando as carmelitas descalças. Ao longo de 20 anos, fundou 17 conventos. A sua reforma teve uma direção clara: sobriedade de vida e regime de clausura, para ela sinal de liberdade para quem deseja uma união profunda e mística com Deus e viver em exclusividade para a interioridade, a contemplação, a oração e a reflexão.

Desde que manifestou uma certa índole vanguardista para a época, passou a ser vigiada pela Inquisição, que desde logo procurou esconder os seus escritos e controlar os danos que a monja arisca lançava na cómoda e controlada normalidade da Igreja. Faleceu a 4 de Outubro de 1582.Pressentindo a visita da morte, escreveu desassombradamente: Olha que o amor é forte. Vida, não me sejas molesta, olha que só te resta para ganhar-te, perder-te. Venha já a doce morte, o morrer venha ligeiro. Que morro porque não morro.» Foi beatificada em 1614. Em 1970 foi proclamada por Paulo VI «Doutora da Igreja», pelos méritos dos escritos místicos e doutrinais, que nos deixou, cheios de sapiência, próprios de uma alma que se deixou abrasar pelo amor de Deus. Já houve em tempos, e não sei de ainda haverá, os caminhos de S. Teresa.

 A forma intensa e apaixonada como os santos viveram a sua fé e o seu amor a Deus, à Igreja e aos outros, e por isso mesmo provocadores de ruturas e de convulsões, é para nós um modelo e um estímulo, mas também não pode deixar de ser um questionamento ao cristianismo tradicionalista e ritualista a que nos acomodámos, ao cristianismo sociológico em que nascemos (somos cristãos porque o ambiente à nossa volta é cristão, falta de convicção) e à forma desfervorosa, rotineira, costumeira, desencantada e morna como vivemos a fé, sobretudo na Europa. Será que já descobrimos e acreditamos mesmo no amor de Deus e na fonte de vida plena e eterna que Ele é?

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