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minhas notas

23.08.14

Olhando ao que pude ler na imprensa, julgo que não foi dado o devido destaque à mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2014. Retomo-a aqui, porque tem alguns temas que valem a nossa atenção. Penso que todos os jornalistas e usuários em geral das redes sociais e da Internet faziam bem em lê-la. Não há dúvida, como começa por salientar o Papa, que o aparecimento da internet e das redes socias e de outros meios de comunicação são um bem maior e um progresso para a humanidade, são um instrumento poderosíssimo para a vida social e para as relações humanas. Graças a eles, podemos nos tornar mais próximos uns dos outros, crescer no diálogo e no conhecimento mútuo, aprofundar a solidariedade, a compreensão e o respeito, construir uma verdadeira «cultura do encontro», «em que estejamos dispostos não só a dar, mas também a receber dos outros», «a ouvir e a aprender uns dos outros». Portanto, não há dúvidas de que os novos meios de comunicação são bons e favorecem a nossa humanização.

Mas, infelizmente, já começam a ser patentes alguns problemas à volta dos novos meios de comunicação, que devem merecer a nossa reflexão. São tão práticos e fascinantes e absorveram-nos de tal maneira que nem tivemos tempo para nos adaptarmos e questionarmos na nossa relação com eles. Mas chegou o tempo de o fazermos. Em primeiro lugar, será que a internet, com as redes sociais, nos aproximou verdadeiramente uns dos outros e nos fez mais interessados em ouvir e aprender com os outros? Claro que hoje, e muito bem, famílias ou amigos que vivem em continentes diferentes conversam e partilham afetos e ideias, mas a sensação que tenho é que ainda estamos muito longe de uma verdadeira cultura do encontro. Vivemos numa «falsa aproximação», conservando-se os individualismos. O estar com os outros nas redes socias, muitas vezes, é mais um entretenimento do que um encontro, o escutar o outro, para melhor o conhecer e amar. As redes socias estão-se a tornar mais uma montra para o exibicionismo pessoal ou coletivo, um impor-se e um falar para os outros do que o seu contrário. Prova disto mesmo é a facilidade com que se ataca quem pensa diferente de nós, sinal de aquilo que escrevemos ou colocamos nas redes socias não foi para escutar os outros mas para recebermos ecos de acordo com as nossas expectativas e convicções. Estamos fechados sobre nós próprios. Depois, também não se vê que as relações humanas reais registem grandes progressos. As redes socias existem não para substituir as verdadeiras relações humanas que devem existir entre pessoas, mas para as aprofundar e completar. A virtualidade é para nos fazer viver melhor a realidade, nos aproximar verdadeiramente dos outros. Se isto não acontece, é uma alienação e uma perda de tempo.

Outro sinal claro de que ainda estamos muito longe de uma verdadeira cultura do encontro nas redes sociais é o culto do anonimato. Abundam os perfis falsos. Não temos de dizer tudo e de mostrar tudo aos outros, mas os outros têm o direito de saber minimamente quem somos de verdade, para que se crie um ambiente básico de confiança, sem o qual não há nenhuma relação que persista. Quem esconde a sua identidade mostra logo que está ali por razões muito duvidosas. E, como se tem visto, o anonimato é o escudo preferido de quem só quer usar as redes socias para descarregar os seus ressentimentos e azedumes, insultar tudo e todos, lançar suspeitas e boatos torpes, humilhar os outros, ajustar contas. O anonimato é inaceitável e deve merecer uma rápida intervenção de quem gere as redes sociais, apesar dos muitos truques de que é mestre.

Um grande desafio que as novas estradas digitais da comunicação e da informação nos colocam é a absorção e a gestão da matéria que chega até nós a toda a hora, numa velocidade excessiva para o ser humano. Tenho a perceção, como já o escrevi várias vezes, de que o homem de hoje está informado, mas sabe pouco. A informação não é transformada em conhecimento e sabedoria. Não se dá tempo à reflexão, à maturação e ao estudo paciente, que serve de filtro, onde se faz a devida crítica a essa informação e se separa o essencial do acessório e se identificam incongruências e avanços. Estão-se umas boas horas no facebook e passam-se horas a ver não sei quantos canais e sites e no fim fica a sensação de que se permanece a mesma tábua rasa que se era, sem se trazer nada de novo ao pensamento e à vida. Como a reflexão não tem tempo, hoje diz-se uma coisa e amanhã já se diz o seu contrário, hoje «mente-se», amanhã desmente-se, de forma que nos sentimos desorientados e perdidos num mar de suposições, possibilidades e meias verdades.

A verdade é o problema mais sério que temos de enfrentar. Muita matéria e muitos dados que circulam na internet são verdadeiros, mas muitos também não são. A internet tornou-se o veículo mais apto e eficaz para se espalhar a mentira. Ao fim de algum tempo de pesquisa, facilmente se encontram distorções, imprecisões, invenções, mentiras, para além de toda a espécie de fantasias e delírios. Quem usa a internet e recorre a ela para se informar e estudar, convém que a complete com outras leituras e nunca deixe de ser prudente, bem como de estar atento e ser crítico sobre aquilo que lê, porque pode muito serenamente estar ao serviço dos muitos caluniadores e trapaceiros da informação, do conhecimento e do saber que só querem lançar a anarquia e lixo na internet.

02.08.14

Escusado seria escrever isto, mas, antes que aconteçam ataques de urticária ou suspeições pífias, lembro mais uma vez que a vida dos partidos políticos e as lutas das forças políticas não me interessam nada. Já não posso dizer o mesmo do discurso político, seja de que partido for, porque o discurso político apresenta visões do mundo e da sociedade e propõe caminhos, metas, soluções e estratégias para o melhoramento da vida coletiva e para a resolução dos problemas e das dificuldades. Tudo isto é criticável. Como cidadão atento e crítico (no sentido positivo da palavra), tenho o direito e o dever de analisar a retórica política e de manifestar a minha concordância ou discordância, apontar erros, incongruências e até devaneios, de acordo com os meus princípios e convicções. Isto é que é a democracia.

Num artigo da revista Visão, de 12 de Junho de 2014, o Dr. Mário Soares expôs a sua preocupação em relação ao meio ambiente e o seu pessimismo quanto ao futuro do ser humano e do planeta terra. Enumerou os muitos problemas que é preciso enfrentar urgentemente: os degelos do Ártico e do Antártico, que vão destruir praias e invadir estradas e casas junto ao mar, a destruição da fauna e da flora, que em algumas partes do mundo está a atingir níveis mesmo preocupantes, a devastação das florestas na busca de ouro, petróleo, gás, carvão, a destruição das florestas pelos incêndios, o sobreaquecimento do planeta, a utilização dos oceanos como lixeiras, colocando-se em risco muitas espécies marítimas. De facto, tudo isto é muito preocupante e tem razão o Dr. Mário Soares quando afirma que não há tempo a perder e é preciso agir com lucidez e determinação. Temos o dever de assegurar o futuro risonho do ser humano e do planeta terra e não o direito de o destruir. Temos o dever de sermos guardiões deste jardim que Deus nos deu e de o deixarmos limpo e belo para outros que o virão ocupar. Quais as causas destes abusos e agressões sobre o ambiente? O Dr. Mário Soares é perentório: a inação e o desleixo dos políticos, sobretudo da ONU, e a ganância e a inconsciência dos mercados, ou seja, do capitalismo que só quer lucros a todo o custo e que só vê dinheiro, sem qualquer preocupação ética. Penso que tem razão o Dr. Mário Soares, embora também existam outras causas menores.

O que eu acho interessante neste artigo do Dr. Mário Soares é que é uma grande crítica ao discurso do seu próprio partido e ao discurso político que imperou em Portugal e no mundo nas últimas décadas. Quando a ciência foi começando a alertar para os abusos e excessos sobre a natureza devido à crescente e desenfreada industrialização dos povos, sem sensatez e ética, os políticos foram assobiando para o lado, preocupados em atingir o poder ou em mantê-lo, convencendo as multidões de que o caminho do desenvolvimento era irreversível, sem se olhar bem à forma, que a industrialização traria o progresso, o bem-estar e a abundância para todos, como se isso a longo prazo não tivesse fatura e como se a mãe terra tivesse uma resistência insuperável e recursos inesgotáveis. As palavras que mais se ouvem agora, em dois coros antagónicos, é austeridade e crescimento. O governo impôs uma linha austera, que talvez tenha sido excessiva. Quem se opõe ao governo, diz que é preciso apostar no crescimento. Qual crescimento? O que é o crescimento? Já todos percebemos: continuar a apostar na industrialização, que tem vindo a degradar a vida humana e a destruir o planeta terra. O próprio Dr. Mário Soares já criticou severamente a linha austera do governo, que não sei se está bem ou está mal, afirmando que é preciso apostar na linha do crescimento. Em que ficamos Dr. Mário Soares: Como é que desenvolvemos o nosso país sem ser à custa dos mercados que todos nós diabolizamos? Queremos salvar o planeta terra, enterrando de vez a velha industrialização e o seu crescimento nocivo e irresponsável, como o Senhor bem afirma, ou continuar a destruí-lo? Que emprego milagroso haverá para os desempregados a não ser através da industrialização perniciosa para o meio ambiente? Qual é o crescimento inócuo e amigo da natureza que já conhecem e que ainda ninguém encontrou? É nestas questões que os partidos políticos se devem concentrar, já que primeiro que tudo devem ser espaços de pensamento e de reflexão, e não andarem entretidos com jogos mediáticos estéreis de ping-pong, em que se atolam num mar de contradições, defendendo-se ao mesmo tempo a natureza e o seu pior inimigo. Temos de repensar outra forma de organizar a sociedade e outro paradigma de desenvolvimento, porque o que até aqui nos trouxe está a molestar gravemente este planeta terra que temos o dever de cuidar.  

2. Muito se tem escrito e comentado sobre a ponte da Assureira entre Vilar de Perdizes e Soutelinho da Raia. Não sei a história da ponte e quais são os contornos políticos que estão na sua origem e que a rodeiam. Mas ainda assim prefiro quem constrói pontes do que quem constrói muros, que, infelizmente, não faltam. Uma coisa me parece certa: é incompreensível que não haja, neste momento, uma estrada rápida e com bom piso entre Montalegre e Chaves. Ainda para mais, não são assim tantos quilómetros como isso. Por muito que se culpe o centralismo de Lisboa, acho que as duas Câmaras envolvidas ainda não fizeram tudo que podem e devem fazer e é pena ver que, afinal, para ações tão importantes, o próprio interior não sabe ter a destreza e a união suficiente para melhorar a sua qualidade de vida, em prejuízo de todos. 

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